Da nobreza republicana

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Da nobreza republicana

#13011 | Ricardo de Oliveira | 15 nov 2001 22:55

Refletindo sobre o quinze de novembro - Da nobreza republicana. Formou-se um segmento social nas vilas do Estado do Brasil que constituía a nobreza da terra. Eram os da governança, os republicanos das estruturas do estado em sua esfera local. A originalidade dos concelhos na formação do estado português e a sua relativa autonomia em maior ou menor escala dependeu das conjunturas. A verdadeira força e autenticidade da experiência portuguesa sempre esteve fundamentada nessa camada. Em todas as crises nacionais e nas mudanças de regime político, os homens bons definiram os rumos do estado. Originários de segmentos profundamente enraizados na defesa da língua e da cultura portuguesa, esses homens bons representavam as entranhas profundas de Portugal contra os estrangeiros. A pedra de toque de nossa identidade enquanto povo, solo, língua, religião e instituição estatal contínua desde as nossas mais remotas origens políticas enquanto o primeiro Estado Nacional europeu. A base da resistência e luta contra o Islã, a vontade de formação do estado português, a configuração de uma fronteira no Minho, a sempre presente desconfiança e defesa contra os castelhanos, a massa de guerra que se bateu contra os mouros e que formou a entusiasmada e desesperada massa de marinheiros e soldados da experiência da conquista e colonização do Brasil. Aí se encontra a sua preferencial composição demográfica. Em 15 de novembro de 1889 foi escorraçada a família real que apresentou vários bons serviços na nossa história. Acredito que Portugal deveria ter se tornado uma república confederativa intercontinental desde 1640. O último rei com plena majestade espiritual foi Dom Sebastião e a monarquia portuguesa acabou na manhã de 4 de agosto de 1578. O maior e mais relevante fato da genealogia brasileira é o entroncamento nos povoadores e fundadores das localidades, os primeiros republicanos. É fundamental a sua origem modesta, simples e popular que se metamorfoseou na velha classe dominante histórica brasileira. O destino principal desse grupo foi o de se entroncar nesses títulos genealógicos regionais fundadores. Ser descendente dos conquistadores e colonizadores locais é a meta da genealogia americana. Ter tido sesmaria com muita e muita terra, ser senhor de muitas gentes e ter tido muitos escravos, pertencer à governança e possuir cargos nas ordenanças - eis as remotas bases que formaram a brasilidade como produto da cultura portuguesa na sua maior experiência qualitativa e quantitativa. O nosso destino assim se construiu em nossa admirável grandeza e contradição, das maiores do mundo.

Nossas saudações

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RE: Da nobreza republicana

#15959 | Ricardo de Oliveira | 17 jan 2002 21:00 | Em resposta a: #13011

Transcrevo uma classificação proposta por Nuno Gonçalo Monteiro no seu texto “Trajetórias e Governo das Conquistas : Notas preliminares sobre os vice-reis e governadores-gerais do Brasil e da Índia nos séculos XVII e XVIII in O Antigo Regime nos Trópicos : A Dinâmica Imperial Portuguesa (séculos XVII-XVIII). Civilização Brasileira : 2001, 253.

No final do Antigo Regime rareiam as descrições sistemáticas coevas sobre a hierarquia nobiliárquica portuguesa, precisamente pela fluidez e complexidade que a caracterizavam. No entanto, aceitando o risco de um exercício esquemático, pensamos que se podem sumariamente distinguir três categorias essenciais.

1) Na base, uma vasta e imprecisa categoria da “nobreza simples” e dos cavaleiros de hábito, que incluía todos os licenciados e bacharéis, os oficiais do exército de primeira linha, milícias e ordenanças, os negociantes de grosso trato, os juízes e vereadores de um número indeterminado de vilas e cidades, enfim, todos os que “viviam nobremente”. Um estatuto fluido, invocado apenas para certos efeitos, abrangendo talvez mais de 8% dos adultos masculinos que, por isso mesmo, se encontrava desqualificado, o que conduzia a uma intensa procura de outras distinções, designadamente, dos hábitos de cavaleiros das ordens militares (para os quais se exigia prova de nobreza, mas não de fidalguia).

2) Acima, uma categoria intermediária de alguns milhares de fidalgos, que compreendia uma maioria de “fidalgos de cotas de armas” e de “fidalgos de linhagens” (cujos ascendentes tinham recebido a carta do brasão de armas ostentado na fachada das suas casas), com uma muito desigual distribuição geográfica, bem como algumas centenas de fidalgos da casa real e desembargadores.

3) Por fim, a “primeira nobreza do reino”, quase toda residente na Corte, constituída por cerca de centena e meia de senhores de terras, comendadores e detentores de cargos palatinos, no cume da qual se encontrava a meia centena de casas dos Grandes do reino.

RCO - Quem fez o “trabalho” pesado de conquista, organizando entradas e bandeiras, guerras e guerrilhas constantes contra índios, escravos, franceses, castelhanos, holandeses e piratas na posse do território americano de Portugal foi o conjunto social que formou a categoria da nobreza da terra brasilica, a de número 1. Era quem exterminava os índios, os quilombolas, organizava o modo de produção e sustentava o “status quo” nos diversões rincões imperiais. Esta verdadeira tropa de choque da língua portuguesa estava habituada com a violência e a brutalidade cotidiana. Todos os seus genearcas atravessaram o oceano dispostos ao vale tudo. Um português contemporâneo encontrará, quando muito, apenas alguns dos seus antepassados que cruzaram o oceano de modo certificado, enquanto esta é a condição inicial dos brasileiros - como o Portugal que navegou, dos que venceram o mar, para depois vencer as imensidões brasileiras. A auto-consciência de sua autonomia geraria a sua identidade republicana no final do século XIX.

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Lula - Renovação Republicana

#30738 | Ricardo de Oliveira | 15 nov 2002 12:42 | Em resposta a: #13011

A família do Presidente Eleito Lula
Em homenagem ao 15 de Novembro - A Renovação Republicana

Na entrada do século XXI e do terceiro milênio verificamos a maior concentração demográfica, material e cultural da língua portuguesa em um raio de cerca de 500 quilômetros em volta da mais antiga vila brasileira, São Vicente, fundada em 1532. Este perímetro alcança o Centro-Sul de Minas Gerais, o Rio de Janeiro, São Paulo, quase todo o Paraná e o Norte de Santa Catarina. Nesta região, com quase cem milhões de pessoas, atravessada pelo Trópico de Capricórnio, se encontra a maior concentração urbana do Hemisfério Sul. Lá está uma das maiores bases industriais do mundo, as maiores e melhores universidades, bibliotecas e a mais poderosa indústria cultural em língua portuguesa. Nessa região também há capacidade nuclear instalada. A base histórico-genealógica fundante dessa região foram as famílias pioneiras da Genealogia Paulistana com o seu espírito bandeirante e o sonho luso-tupi realizado de se controlar todo o litoral da Floresta Atlântica até os sertões mais distantes. Para um grupo social que tem como maior orgulho e identidade pertencer aos genearcas fundadores quinhentistas, a forma republicana de governo foi o seu próprio governo, o governo de sua gente. Realizada uma etapa histórica, abre-se uma nova agenda. A democracia republicana tem que incorporar o novo, absorver os imigrantes e se renovar a cada eleição. A espetacular vitória de Luís Inácio Lula da Silva é a vitória dos valores mais essenciais da República e da Democracia Brasileira. É a retomada da construção de um novo contrato social e de um projeto nacional tão necessários em função da sociedade brasileira. Com diálogo, tolerância e persistência o Brasil iniciará mais uma fase da sua vida política. Com o Presidente Lula acontece uma renovação na origem social de um chefe máximo do poder executivo e o próprio poder poderá se renovar com a rotatividade política.
O Brasil profundo se reencontra de novo consigo mesmo. Mais uma vez a sociedade e o Estado do Brasil vencem os seus desafios como sempre o fizemos desde 1532-1549.
E quem é a família de Lula ? Pesquisamos para responder :

Lula nasceu em Vargem Grande (hoje Caetés), próximo a Garanhuns, no sertão pernambucano, em outubro de 1945. O dia, porém, ninguém sabe exatamente. Na sua certidão, a data é 6 de outubro. Mas a mãe de Lula, Eurídice Ferreira de Melo, a dona Lindu, dizia que foi no dia 27. É nesse dia que Lula comemora seu aniversário. De qualquer modo, as duas datas lhe garantem uma coincidência que gosta de repetir. O primeiro turno das eleições será no dia que consta do seu registro de nascimento. O segundo turno, no dia do seu aniversário.

Lula estava na barriga da mãe quando seu pai, Aristides Ferreira da Silva, abandonou a família. Migrou para Santos e prometeu que voltaria para buscar a mulher e os filhos. Na verdade, levou com ele uma prima de dona Lindu, Valdomira Góes, e iniciou uma nova família. A fome e as dificuldades fizeram a mãe de Lula pegar os filhos e partir em busca do marido. Aristides manteve as duas famílias, mas dona Lindu e seus filhos ficavam apenas com as sobras.

Lula passou a infância sendo espancado e humilhado pelo pai. Só foi capaz de superar essa mágoa hã menos de um mês, quando a revista Época publicou reportagem sobre sua relação com Aristides. Quando a revista foi às bancas, o secretário particular de Lula, Gilberto Carvalho, encontrou-o com um exemplar e começou a ler a reportagem em voz alta. Mas Lula tirou a revista das mãos do amigo. Em silêncio, leu a reportagem e chorou copiosamente. Para Gilberto, naquele momento Lula perdoou seu pai.

Discurso mimetizado
A Lula foi o primeiro dos irmãos a conseguir emprego. Aos 14 anos, era metalúrgico na Fábrica de Parafusos Marte, na zona sul de São Paulo. Seu primeiro patrão, Miguel Serrano Idalgo, tem hoje 84 anos e é seu eleitor. À época, Lula achava uma bobagem perder tempo com discussões sindicais. Na família, quem pensava em política era seu irmão mais velho, José Ferreira da Silva, hoje com 60 anos. Filiado ao Partido Comunista, tinha o apelido de Frei Chico por causa de uma calvície que lhe deixava com uma coroinha igual a de um frade. Em 1969, o irmão conseguiu que Lula entrasse para a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos. Ele, porém, tinha acabado de se casar, e sua mulher, Lourdes, estava grávida de nove meses. Lourdes morreu durante o parto. O bebê também morreu. Para tentar superar a tragédia, começou a freqüentar o sindicato com mais assiduidade.

A conscientização política só aconteceu em 1975, quando Frei Chico foi preso e sofreu torturas nas mãos dos militares. A família levou 30 dias para conseguir localizá-lo. ''Foi nesse momento que meu irmão tomou de fato consciência política'', recorda Frei Chico.

A história que se segue a partir daí é mais conhecida. Como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Lula liderou três greves históricas, nos anos de 1978, 1979 e 1980. A repressão ao último movimento grevista, com sua prisão, levou à conclusão de que era necessário criar um Partido dos Trabalhadores. No PT, Lula tentou por quatro vezes ser presidente da República. Em cada tentativa, foi mudando. E amenizando seu discurso. Correio Braziliense 25/8/2002

Os brasileiros não viram a parte mais dolorida do programa em que Luiz Inácio Lula da Silva contou a história de sua vida. Durante a gravação, o candidato do PT chorou ao lembrar que o pai, Aristides Inácio da Silva, deu sorvete a dois de seus meios-irmãos e negou a ele. 'Você não sabe chupar sorvete', disse-lhe o pai. Lula decidiu cortar a passagem do programa para não 'expor uma dor pessoal', como revelou o jornal O Globo no sábado 27. Lula não gosta de falar do pai, o personagem mais controverso de uma saga pessoal marcada por sofrimentos comuns à maioria dos brasileiros pobres. Quando é obrigado a recordá-lo, o faz com os olhos marejados. Nega qualquer influência dele em sua vida. 'Hoje, aos 56 anos, eu perdôo meu pai', disse Lula a ÉPOCA. 'Valeu o espermatozóide que me gerou.'

O pai de Lula, morto em 1978 de alcoolismo, sobrevive nas lembranças do filho como pura dor. Ele foi sepultado como indigente no cemitério de Vicente de Carvalho, no litoral paulista. Nenhum dos filhos quis retirá-lo da vala comum dos desvalidos para lhe dar um túmulo e um epitáfio. 'Morreu. Tava feito', diz o filho mais ilustre. O que Lula se esforça para enterrar é a herança de Aristides: abandono e brutalidade. O legado do pai padrasto é a chave para compreender a gênese do homem carismático, de gestos generosos e comportamento acolhedor que quer ser presidente do Brasil. Ausente na história, a memória do pai é tão onipresente quanto o dedo decepado de Lula. Reduzida a duas linhas na biografia de campanha, Aristides é uma imensa sombra emocional. A história tem início em setembro de 1945, quando Aristides deixa Caetés para empreender o êxodo para São Paulo. Faltava um mês para Lula nascer. O pai não esperou. É também ali, na voragem do sertão pernambucano, que começa a saga da família Silva. 'Uma síntese tão perfeita do país que, se fosse ficção, seria considerada de má qualidade, porque tudo se encaixa', define a jornalista e historiadora Denise Paraná. Autora de uma tese de doutorado defendida na USP e publicada no livro O Filho do Brasil, Denise usa recursos da psicanálise para estudar a construção de Lula como líder de massas a partir da relação com os pais. Foi a única, entre muitos biógrafos do candidato, a apontar a importância de Aristides. 'Lula precisou destruir a autoridade paterna ä para reconstruir a própria autoridade, um novo projeto para ele e para os seus. Persegue esse objetivo incansavelmente', afirma. 'Ao superar o pai, mudou radicalmente um destino que poderia ter repetido o de Aristides, como tantos brasileiros que compartilham dessa origem, mas que chegou a Lula.'

É na oposição entre a tirania do pai e a rebeldia da mãe que a biógrafa encontra o cimento que amalgamou os alicerces do Lula atual. Aristides foi um déspota familiar típico, que aplicava surras constantes e inexplicáveis nos filhos, negando a eles qualquer possibilidade de progresso ao lhes proibir estudar. Se tivesse desaparecido da vida de Lula mais cedo, talvez as marcas deixadas fossem menos difíceis de apagar. Para o presidenciável, não se trata de lidar com o abandono do pai, como tantos órfãos que aos poucos aprendem a suportar a dor de uma ausência, mas de carregar a lembrança de humilhações sucessivas por parte de um personagem cujo papel, para a maioria das pessoas, é de fundador da personalidade e semeador de esperanças. A mãe, Eurídice Ferreira de Mello, a dona Lindu, abandonou Aristides depois de um longo rosário de sofrimentos, levando pela mão os oito filhos. Até morrer, em 1980, de câncer, cumpriu o juramento feito ao marido de nunca mais lhe botar os olhos. Apenas Genival da Silva, o Vavá, visitava o pai em Santos. Mesmo adulto, não tinha coragem de fumar na frente de um Aristides já derrotado pela bebida. Dos traços físicos paternos, os irmãos só admitem que Lula herdou o nariz. Como qualidade a ser exaltada, apenas o fato de que Aristides era trabalhador. Sem ser politizado, tinha seus ídolos: Getúlio Vargas e Luiz Carlos Prestes. Lula credita todas as virtudes herdadas à mãe, que ao deixar o marido depositou no caçula suas melhores expectativas. Ao contrário do pai, a quem reservou um lugar de indigente também em sua história, ele instalou a mãe no posto mais importante de sua vida. 'Minha mãe largou tudo e foi embora. Para mim essa coragem foi impressionante', enfatiza. 'Ela mostrou que é possível vencer. Basta brigar.' Revista Época

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RE: Lula - Renovação Republicana

#30744 | camisao65 | 15 nov 2002 13:56 | Em resposta a: #30738

Sr. Ricardo Oliveira,

Admiravel o modo como defende o Presidente Eleito do Brasil. Só lhe fica bem, como brasileiro (e presumo que o seja). Mas permita-me lembrar-lhe, que também o senhor (caso seja brasileiro), também descende dessa "verdadeira tropa de choque da língua portuguesa", que "exterminava os índios, e os quilombolas".
E já agora em relação ao seu Presidente Eleito, que aqui tão ferozmente defende, permita-lhe recordar, que não nos traz nada de novo, pois em Portugal, como sabe, vivemos muitos e maus anos, de perseguições, degredos, e maus serviços à Nação, curiosamente despoletados,( já que fala do 15 de Novembro), por um cobarde golpe republicano, executado em 1908, e que temos também muitos defensores da democracia, e alguns bem mais capazes ideologicamente.
E já que não assina os seus textos, eu também não o faço.
Saudações monárquicas.

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RE: Lula - Renovação Republicana

#30748 | Ricardo de Oliveira | 15 nov 2002 14:24 | Em resposta a: #30744

Prezado Sr. Camisão

Concordo com as suas observações. Sou cidadão brasileiro e o meu objetivo foi o de apontar a base social e genealógica que construiu a forma republicana de governo no Brasil.
"A Constituição de 1988 determinou que a forma (Monarquia ou República) e o sistema de governo (presidencialismo ou parlamentarismo) deveriam ser escolhidos pelo próprio povo. Em 21 de abril de 1993, 67,01 milhões de brasileiros foram às urnas em todo o país. Nesse plebiscito, a República foi escolhida por 44,26 milhões de eleitores (66,06%), enquanto a Monarquia teve apenas 6,84 milhões (10,21%). Os votos brancos e nulos somam 23,73%. Para o sistema de governo, o presidencialismo recebeu 55,45%, contra 24,65% do presidencialismo. Os 19,9% restantes foram de votos brancos e nulos" (Guia dos Curiosos).
Saudações Democráticas do Ricardo Costa de Oliveira. A assinatura estava em cima !

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RE: Lula - Renovação Republicana

#30753 | camisao65 | 15 nov 2002 16:06 | Em resposta a: #30748

Sr. Ricardo Costa Oliveira,

Mas será, que houve um debate sério honesto e participativo?
Será que a população brasileira, estava ciente do que estava a escolher?
Porque acho que a proporção de votos nulos e brancos 23,73%, foi demasiada para tão importante acto, e uma vez que a abstenção não é especificada, tenho dúvidas sobre o esclarecimento da população.
Em relação à assinatura, e para sua informação, caso desconheça, qualquer assinatura, vem sempre no fim do texto.

Saudações monárquico-democratas
Luís Camizão

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RE: Lula - Renovação Republicana

#30768 | zamot | 15 nov 2002 19:53 | Em resposta a: #30753

Caro Luis

M U I T O B E M

Um abraço

Zé Tomáz

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Da Nobreza Republicana em Oligarquia no Brasil

#30778 | Portuguez | 15 nov 2002 23:50 | Em resposta a: #15959

Caro Ricardo de Oliveira

Respeito o seu ideal republicano, ideal que à partida aliás não tem nada que ver com nobiliarquia versus cidadania, como muitos alguns, para espanto meu, ainda parecem pensar neste sc. XXI em início. A nobreza enquanto classe extingue-se em Portugal depois da Guerra Civil, pois o que a caracterizava e lhe dava real importância no contexto nacional era um estatuto jurídico diverso do dos restantes Portugueses. Nada tem pois que ver com títulos conferidos pelo Estado, nem com honras que no regime monárquico-liberal burguês se tornaram quando muito mera recompensa, do tipo condecoração, chorudamente paga ao Estado pelos agraciados. Pessoalmente, quanto mais conheço os monárquicos, mais me sinto republicano, e vice versa. Mas também estou como os monárquicos portugueses em 1910: o problema não é a República, são os republicanos. E vice versa, digo eu. Apreciei ler as suas extensas notas sociológico-históricas de hoje. Mais do que defender uma melhor forma de representação do Estado por via republicana, ou monárquica, parece-me mais importante a manutenção e reforço da dignidade nos aspectos formais da simbolização nacional exercida por inerência de cargo pelo chefe de Estado, o que infelizmente teve tendência a nem sempre acontecer, quer no Brasil, quer em Portugal, desde a instauração das respectivas repúblicas.

Permita-me apenas chamar a atenção para alguns lapsus calami, pois o vejo falar em discurso tanto de português, quanto de brasileiro, o que sendo legítimo pode ocasionar confusão na leitura do texto:

a) em 15 de XI de 1889 foi escorraçada não a FReal (Portuguesa) mas sim a a FImperial (Brasileira).
b) o que considera "plena majestade espiritual" para D. Sebastião? Eu majestade espiritual só conheço a de Nosso Senhor Jesus Cristo, e a do Senhor Buda. Em termos esotéricos, curiosamente, foi D. Sebastião o primeiro soberano português a ostentar coroa real fechada, acompanhada do tratamento de Majestade.
c) compreendendo embora o seu sentido alegórico no texto, a Monarquia Portuguesa não acabou em 4 VIII 1578 (aliás, 14 VIII 1578) mas sim em 4 X 1910. Tem algo contra as Casas de Habsburgo, de Bragança e de Saxe?
d) importaria a meu ver não confundirmos o "republicano" de Res Publica, que sempre existiu em Portugal e Brasil, conforme refere, nas suas respectivas governanças, com republicanismo enquanto doutrina jacobina que visou eliminar a forma monárquica de representação do Estado. Não fossem aliás monarquizantes (no sentido de se legitimar o seu poder local por enraizarem em dinastias primordiais omnipresentes ao longo do tempo nos cargos municipais) essas reclamações de poder ab initio nas terras emergentes do interior brasileiro. Por que acha que essas pessoas buscavam mais do que o próprio poder pessoal, como ainda hoje? E que sociologicamente não se consideraram e consideram acima do vulgo que governavam/governam?
e) Não penso que o trabalho pesado da conquista que refere tenha sido feito apenas pelos do nº 1 do exposto no seu 2º post neste tópico. Foram todos três. A direcção, menos visível, e melhor remunerada, é sempre mais importante. Quem faz o pão? Só o trabalhador que semeia o grão, como defende a escola marxista? Segundo Cristo, em parábola, os "últimos serão os primeiros".

Termino afirmando que realmente penso que as camadas que valoriza, e eu também, na feitura do Brasil profundo, são no seu espírito oligárquico ainda presente as sucessoras do espírito aristocrático original dos pioneiros que lhes deram origem, origem que como muito bem disse, os seus sucessores agoram reclamam a justo (em alguns casos injusto) título.
Um abraço atlântico e lusitano de quem muito o admira e respeita, e ao seu trabalho, do

Alexandre Tavares Festas

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RE: Lula - Renovação Republicana

#30782 | artur41 | 16 nov 2002 12:15 | Em resposta a: #30748

Caro Ricardo


Óbviamente que respeito as sua escolhas. Gostaria apenas, se me permite, de lhe colocar algumas questões:

1) Será que o povo brasileiro estava suficientemente politizado?
Quer-me parecer que esse referendo estava, de alguma forma, condenado à nascença!

2) Já examinou as virtudes dum regime semi-presidencialista, ou parlamentarista?
Poderia implementar uma efectiva participação política dos cidadãos: refiro-me a uma democracia representativa e parlamentarista.

3) Não acha que o excesso de "idolatria" (quase "messianização") face ao Lula, pode prejudicar as necessárias transformações sociais?
Repare que qualquer "sacralização" do chefe de Estado é perniciosa!


Um abraço

Artur Camisão Soares

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RE: Lula - Renovação Republicana

#30798 | aburma | 16 nov 2002 23:38 | Em resposta a: #30748

Caro Ricardo de Oliveira,

Li com muito interesse as suas mensagens e espero que não esmoreça nas suas contribuições para este Forum.
Estou genericamente de acordo com as observações do nosso confrade Alexandre Tavares Festas, mas a propósito do referendo que refere, até fiquei surpreendido com os 10% que os adeptos da restauração monárquica obtiveram, número que desconhecia e que duvido pudesse ser atingido em semelhante referendo em Portugal. É fiquei surpreendido por várias razões. Primeiramente porque a monarquia foi abolida no Brasil há mais de 100 anos, o que numa perspectiva histórica brasileira é, convenhamos, muito tempo. Em segundo lugar porque uma restauração poderia dizer algo, penso eu, apenas a descendentes de portugueses, e tendo a população brasileira as mais diversas origens, difícil seria cativar para um ideal monárquico descendentes de , por exemplo, italianos, japoneses ou alemães, que como saberá melhor que eu existem em grande quantidade no Brasil, já para não falar da população negra e indígena. Trata-se de uma situação semelhante à da Áustrália, onde no recente referendo a esmagadora maioria dos que votaram na manutenção da monarquia (posição que venceu) eram de origem britânica, tendo o voto dos australianos de outras origens sido maioritariamente pela república, posição perfeitamente compreensível, pois pouco ou nada os liga à Grã-Bretanha e sua tradições, incluíndo a monarquia.

Um abraço

Alexandre Burmester

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RE: Lula - Renovação Republicana

#30802 | Ricardo de Oliveira | 17 nov 2002 11:38 | Em resposta a: #30798

Prezados colegas

Eis a votação :
PRESIDENTE última atualização: 31/10/2002 14:32:03

candidato / votos % válido

LULA (PT) 52.793.364 - 61,3

JOSÉ SERRA (PSDB) 33.370.739 - 38,7

votos válidos apurados 86.164.103

votos %

Brancos 1.727.760 - 1,9

Nulos 3.772.396 - 4,1

Abstenções 23.589.188 - 20,5

votos apurados 115.253.447

urnas apuradas 320.458 - 100,0
Dados fornecidos pela Justiça Eleitoral

O importante é que todas as opiniões políticas participem. Dois minúsculos partidos trotsquistas lançaram candidatos e tiveram tempo na televisão para expor as suas idéias. Se os monarquistas quiserem propor outro plebiscito, os parlamentares têm que propor tal matéria e para tanto devem se organizar como todas as diversas e diferentes correntes políticas em uma democracia.
O brasileiro é uma imensa mistura. Muitos brasileiros têm antepassados indígenas e africanos nos séculos mais antigos e temos antepassados de praticamente todas as regiões da Europa nos dois últimos séculos, sendo a base e o solvente da mistura a genealogia portuguesa nesse curioso laboratório étnico que se chama Brasil.

Aquele abraço para todos os amigos
Ricardo

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RE: Lula - Renovação Republicana

#30842 | mso | 18 nov 2002 10:43 | Em resposta a: #30802

Caros Participantes,
É muito interessante perceber tanto entusiasmo perante um fenomeno efectivamente novo no panorama da America Latina! De facto trata-se da consolidação da Democracia Brasileira o que é um passo fundamental para um desenvolvimento mais harmonioso.

Quanto á questão Monarquica, creio salvo melhor opinião, tratar-se hoje, no sec. XXI, de um assunto com uma dimensão HISTÓRICA e sobretudo com uma dimensão ao nivel do DESENVOLVIMENTO HUMANO.

A dimensão histórica, no caso brasileiro, permite-nos visualisar a possibilidade da restauração monarquica. O que para muitos outros países com origem colonial é menos viavel, estou a pensar em casos como Moçambique.

Mas é sobretudo a dimensão do desenvolvimento humano que nos permite aceitar futuras restaurações monarquicas. Varias são as razões que me levam fazer esta afirmação, mas de momento remeto-vos para o relatorio de 2002 da ONU para o desenv. humano, no qual se constata que nos 10 paises mais desenvolvidos 7 são monarquias (os 5 primeiros todos o são!) .

Dito isto, caro Ricardo Oliveira, abrace as opções de desenvolvimento mas não ponha de parte a questão Monarquica.

Saudações Monarquicas e fraternas
Miguel de Sousa Otto

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Lula - Renovação Republicana

#30847 | Vasconcelosminas | 18 nov 2002 11:19 | Em resposta a: #30842

Caros confrades,
A questão levantada pelo amigo e compatriota Ricardo de Oliveira, pelo visto, recebeu a atenção dos demais e implementou uma boa discussão sobre a questão da causa da Monarquia no Brasil.
Realmente, o plebiscito dito popular de 1993, para a escolha da forma de governo brasileiro, no meu entender, foi tumultuado. A começar pela própria forma de sua organização, juntando-se República x Monarquia com Presidencialismo x Parlamentarismo. Lembro-me que, mesmo em setores ditos mais esclarecidos, sobravam dúvidas de como proceder.Não sou conhecedor da área, mas deveria ter sido somente Monarquia x República, pois, se tivesse resultado na escoha da MOnarquia, evidentemente que teria que o sistema ser Parlamentarismo. Se desse República, fazia-se outro plebiscito, para escolher Presidencialismo ou Parlamentarismo.
Naquele ano (1993) como ainda, e muito, nos dias que correm, o brasileiro continua sendo um povo extremamente pouco politizado. Isso fruto de 20 anos da ditadura militar instaurada em 1964.
Também, por ocasião do plebiscito brasileiro de 1993, teve a Família Imperial "culpa no cartório" como dizemos aqui. É que D. Luiz, representante legal e moral da F. Imperial, teve que disputar com o parente D. Pedro Gastão (que se arvorou no direito ao Trono) a direção da campanha do plebiscito.
Mas, acima de tudo, tanto do lado republicado, quanto o monarquíco, não teve tempo hábil para, claramente, dizer o que eram e o que pretendiam e como funcionavam. O alto índice de votos brancos e nulos é a prova disso.
O espírito monarquíco ainda vive em meio a classe popular. Tanto que ninguém chama o Pelé do Presidente do Futebol, mas de Rei. Vejam também as escolas de samba, tão afamadas mundo afora. Só para citar um exemplo, a Imperatriz Leopoldinense. Acaso, alguém já viu uma escola de samba chamada "Presidente de Tal" ou "República disso ou daquilo"? Ou quando, em linguagem popular (gíria) o brasileiro quer dizer que determinada pessoa é competente naquilo que faz, diz que "fulano é o REI da cocada-prta", não se diz "Presidente da cocada-preta".
Lula realmente é o primeiro Presidente do Brasil vindo de fora das tradicionais elites do país. Porém contou, e não em pouca monta, com o apoio maciço de parte, ainda que pouco menor, das ditas elites e isso é inegável.
O que falta no brasileiro é conscientização, é fazer a grande massa popular ter, novamente, um mínimo de politização. Porém, necessário é, antes disso, matar a fome do povo.
Meu cordiais abraços

José Roberto Vasconcelos
Serraria - Rio de Janeiro
vasconcelos@genealogias.org

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