Gonçalo Vaz Coutinho, "que falou depois de morto"

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Gonçalo Vaz Coutinho, "que falou depois de morto"

#9144 | Carlos Silva | 14 set 2001 22:00

A proposito de Gonçalo Vaz Coutinho, filho 1° de Fernào Coutinho, senhor de Basto, escreve Alào de Moraes « morreu por justiça em Santarém, por tratar mal sua 2a mulher, sendo ainda seu pai vivo. Este foi o que falou, depois de morto, com el-Rei D. Joào II, em santarem, em S. Domingos das Donas »
acrescenta que matou a 1a e a 2a mulher sem causa, « pelo que morreu degolado ».

Gostaria de saber se existem mais referencias ao curioso episodio de S. Domingos de Donas, e se houve algum estudo sobre este « barba azul ».

Além disso, é espantosa a sorte desta parte da linhagem dos Coutinhos :

Os filhos do criminoso :
Alvaro Coutinho, a que mataram uns seus inimigos
Filipa Coutinho, mulher de Diogo Coutinho, que ele matou
Manuel Coutinho, que fugiu para Castela com sua meia irmà Joana da Guerra

Depois os filhos deste :
Gonçalo Vaz Coutinho, Alvaro Coutinho, e Fernào Coutinho, « todos degredados para a India, por culpas : um se chamava Barrabàs, outro Lucifer e outro Satanàs ».
Gonçalo « lançou-se na India com os Mouros, mas depois morreu com grande arrependimento ».

cumprimentos

C. Silva

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RE: Gonçalo Vaz Coutinho, "que falou depois de morto"

#17320 | S.João de Rei | 17 fev 2002 12:51 | Em resposta a: #9144

Torres Vedras, 2002-02-17



Caro Carlos Silva

Tenho acompanhado com interesse e satisfação as suas intervenções no capítulo da Genética, á semelhança creio, de todos os integrantes deste Forum.
Curiosamente neste seu Tópico, á tempos atrás comentei o comportamento destes antepassados, atribuindo-lhe problemas de Foro Psiquiátrico. Hoje acredito serem na realidade consequências de Foro Genético.

Diogo Lopes de Azevedo o 5º senhor de S. João de Rei, foi sobrinho deste Gonçalo Vasques/Vaz Coutinho, filho de sua irmã Maria da Cunha/Vilhena. De acordo com o seu comportamento repreensível foi-lhe tirado por el Rei D. Manuel I, o senhorio de S. João de Rei.
José de Sousa Machado diz:

Diogo Lopes de Azevedo casado com Leonor de Menezes (sua prima), filha de Henrique de Sá de Menezes, senhor de Sever, Matozinhos etc. e de sua segunda mulher Brites de Menezes, da casa de Cantanhede. Parece que passou a segundas núpcias, mas não houve filhos nem do primeiro nem do segundo matrimónio.
Era tresloucado e brigão, e tantos crimes praticou que foram confiscados os seus bens. Os senhorios de S. João de Rei, de Terras de Bouro e de Aguiar de Pena voltaram à Coroa.
Manuel de Sousa e Silva refere no seu nobiliário esses crimes, que outros denominam desmandos ou excessos filhos das manias que tinha.
Deu uma cutilada no rosto de Leonor de Menezes sua mulher; tomou à ponte de Caldelas uma donzela do povo que vinha com o noivo da igreja onde se haviam casado; e matou um padre que estava no altar a dizer missa.
Morreu contrito em Roma.
Os senhorios Régios, padroados, jurisdições e data dos tabeliães, passaram à Coroa e foram dados ao infante D. Luís tendo sido este o 6º senhor de S. João de Rei. Entretanto mais tarde estes senhorios foram devolvidos à família, na pessoa de Pedro Lopes de Azevedo irmão de Diogo Lopes e que foi o 7º senhor de S. João de Rei.

Sem dúvida o comportamento de Diogo semelhante ao do seu tio e primos, devem-se penso eu a implicações genéticas.

Enviarei uma cópia desta carta para o tópico de “S. João de Rei”.

Cordiais cumprimentos,


José de Azevedo Coutinho

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RE: Gonçalo Vaz Coutinho, "que falou depois de morto"

#17330 | S.João de Rei | 17 fev 2002 17:36 | Em resposta a: #9144

Torres Vedras, 2002-02-17


Caro Carlos Silva



Maria da Cunha como se sabe foi filha de Branca de Vilhena.

Branca de Vilhena teve dois maridos:
O primeiro Rui Vasques Coutinho do qual teve três filhos.
O segundo Fernão Vaz da Cunha pai de Maria da Cunha.

Não será também Rui Vasques Coutinho também pai de Maria da Cunha?
Fernão Coutinho era sobrinho de Rui Vasques Coutinho.
Inclino-me a pensar que serão primos direitos e sendo assim, estariam explicadas estas “taras”.


Cumprimentos Cordiais,


José de Azevedo Coutinho

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RE: Gonçalo Vaz Coutinho, "que falou depois de morto"

#17360 | Carlos Silva | 18 fev 2002 16:38 | Em resposta a: #17320

Este topico toma um rumo que, de certo modo, seu estranho titulo podia de inicio deixar falsamente supor numa leitura cientifica de genetista.

Eu teria tendencia a aconselhar a maior prudencia quanto ao aspecto genético destes casos estudados, se é que os dados dos nobiliarios sào exactos.

Mesmo que o sejam, os factos tambem podem resultar de dados sociais, sociologicos.

Genéticamente falando, a tendencia para o uxoricidio nào passa de sogro para genro como é o caso no exemplo que dei inicialmente.

Qual é a parte da herança biologica, e qual a da herança social?

O caso famoso para se estudar, mas que nào responde a todas a perguntas, antes pelo contrario, é o de Max Jukes, bebado e vagabundo de Nova Iorque, que viveu no séc. XVIII, e cuja descendencia en 1915 (2094 individuos) contava :
140 crimininosos (7 assassinos)
300 prostitutas
310 mendigos
600 oligofrenas

Uma especie de Genes ou de educaçào ?

Melhores cumprimentos

C.P. Silva

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RE: Gonçalo Vaz Coutinho, "que falou depois de morto"

#51670 | Carlos Silva | 14 nov 2003 13:42 | Em resposta a: #9144

.

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Max Jukes

#72347 | doria_gen | 04 set 2004 22:19 | Em resposta a: #17360

não é o caso dos Kalikaks, Carlos?

fa

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RE: Max Jukes

#72353 | Carlos Silva | 04 set 2004 22:42 | Em resposta a: #72347

Penso que nào, meu caro Fa.

As circunstancias nào sào bem as mesmas, me parece, e eu acho que o caso Kallikak é bastante diferente no sentido que, à partida, temos a descendencia de uma deficiente mental, màe de MArtin Kallikak (cujo nome é ficticio) comparada com a descendencia da familia que nào é descendente da mesma (meios-irmàos) que nào têm quanto a eles o minimo problema comparavel na respectiva descendencia.
Os casos tem portanto contextos e liçoes diferentes.
Uma doença hereditaria nào serve, ou mal serve, em sociologia, me parece.
Parece-me que o caso Jukes é merecedor de uma analise mais fina e por isso talvez mais interessante.

Pareceres de leigo, como sabe.

Abraços
Carlos Paulo

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RE: Max Jukes

#72354 | doria_gen | 04 set 2004 22:43 | Em resposta a: #72353

Você teria a referência bibliográfica exata? Peço-a à nossa bibliotecária.

Grato, Carlos, como sempre. Com um abraço, Francisco Antonio

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RE: Max Jukes

#72362 | doria_gen | 04 set 2004 23:02 | Em resposta a: #72353

Pela internet numa googlagem de bobeira, encontrei isso:

-----------------------------------------------------------------

The Jukes Study ...from Chapter 3. "What It Means"


[In the Kallikaks] we ... have two series from two different mothers but the same father... for six generations. Both lines live out their lives in practically the same region and in the same environment, except in so far as they themselves, because of their different characters, changed that environment. [27] We thus have a natural experiment of remarkable value to the sociologist and the student of heredity.


The Jukes Family


The famous story of the Jukes family [was] published by Richard L. Dugdale [28] in 1877. [The Jukes were] a startling array of criminals, paupers, and diseased persons, more or less related to each other and extending over seven generations.


Dr. Winship [?] has undertaken to compare this family with the descendants of Jonathan Edwards, [29] and from this comparison to draw certain conclusions. It is a striking comparison, but unfortunately not as conclusive as we need in these days. The two families were utterly independent, of different ancestral stock, reared in different communities, even in different States, and under utterly different environment.


The [Edwards family], starting from a strong, religious, and highly educated ancestor, has maintained those traits and traditions down to the present day and with remarkable results; the [Jukes family], starting without any of these advantages, and under an entirely different environment, has resulted in the opposite kind of descendants.


Against The Case for the Environmentalist


It is not possible to convince the euthenist [30] (who holds that environment is the sole factor) that, had the children of Jonathan Edwards and the children of "Old Max" [Jukes] changed places, the results would not have been such as to show that it was a question of environment and not of heredity. And he cites to us the fact that many children of highly developed parents degenerate and become paupers and criminals, while on the other hand, some children born of lowly and even criminal parents take the opposite course and become respectable and useful citizens....


[The environmentalist argument might apply to the Jukes family, but the present study is] not open to this argument.... [The bad Kallikaks] were feeble-minded, and no amount of education or good environment can change a feeble-minded individual into a normal one, any more than it can change a red-haired stock into a black-haired stock. The striking fact of the enormous proportion of feeble-minded individuals in the descendants of Martin Kallikak Jr. and the total absence of such in the descendants of his half brothers and sisters is conclusive on this point. Clearly it was not environment that has made that good family. They made their environment; and their own good blood, with the good blood in the families into which they married, told.



[In spite of this conclusion, some evidence in favour of the environmentalist appears later in the chapter. See page 13. -editor]


§ Previous page: The Good Kallikaks | Contents | Next : The Criminal Type

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RE: Max Jukes

#72364 | doria_gen | 04 set 2004 23:10 | Em resposta a: #72362

Não venho exatamente de uma família de Jukes ou Kallikaks, mas percebo certos padrões no meu pessoal: no lado Doria, do século XVI ao XVIII são uma gente lentamente em decadência, senhores de engenho e fidalgos da casa real. Meu tetravô Manuel Joaquim da Costa Doria era boiadeiro, e no final da vida mora em Santo Amaro, pobre. O filho, meu trisavô, aparece como professor em Itapicuru, também na Bahia, em 1833, já casado com a filha (prima) do tabelião local. Quando fundam o primeiro teatro de Sergipe, ele está lá, presente, 1857. Meu bisavô Diocleciano da Costa Doria é doutor em medicina e político. Seu filho, meu tio avô Tunico, Antonio Moitinho Doria, funda a Ordem dos Advogados, no Rio, e é seu primeiro presidente. Era um jornalista conhecido, como meu pai. (Tenho um filho jornalista.)

(O pe. Antonio Vieira está como tio-avoengo nesse lado, mas duvido que haja algum link genético desde então - sua irmã D. Inácia de Azevedo casou com Fernão Vaz da Costa Doria, e foram antepassados de D. Teresa Mariana, ou Sebastiana, mulher de Manuel Joaquim, supra.)

fa

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RE: Max Jukes

#72365 | Carlos Silva | 04 set 2004 23:11 | Em resposta a: #72354

A proposito dos Jukes : Foi um estudo de Richard L. Dugdale: The Jukes (A study in crime, pauperism, disease and heredity)

Pessoalmente abordei o caso indirectamente i.e.por via de Lucien Malson e dos seus "Les enfants sauvages". Nào era de surprender.

The Kallikak family: A Study in the Heredity of Feeble-mindedness
Henry Herbert Goddard

Em ambos os casos estudos genealogicos a auxiliar de forma incontornavel o trabalho dos investigadores.

Boa leitura.

Se a vossa bibliotecaria souber o que significa "estirpe de Santa Tereza, 19" (como vem noutro topico), obra de genealogia, poderia ser minha befeitora.

abraçào.

Carlos Paulo

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RE: Max Jukes

#72366 | doria_gen | 04 set 2004 23:14 | Em resposta a: #72365

Carlos,

Com meu filho menor olhando aqui insistentemente para o que escrevo, esperando que lhe passe o modem, fica diícil responder. Mas - conheço o clã de Santa quitéria, livro de Nertan Macedo.

fa

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RE: Max Jukes

#72367 | Carlos Silva | 04 set 2004 23:23 | Em resposta a: #72362

Caro Fa,

De facto a pagina que aponta, as que seguem e as anteriores, fazemumtudo muito completo.
Vejo que é :
Goddard's Kallikaks: Abridged and annotated by D. Likely, University of New Brunswick.

C.P.

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RE: Max Jukes

#72379 | doria_gen | 05 set 2004 11:31 | Em resposta a: #72367

Com certeza. Li uma versão resumida do estudo sobre os Kallikaks há muitos anos (está disponível online), mas confesso que não conhecia o sobre Max Jukes. Obrigado por me esclarecer!

Por outro lado, andei olhando o perfil sócio-cultural de famílias brasileiras da classe dominante colonial. Na Bahia, sobretudo (mas também em Pernambuco e adjacências), passam de senhores de engenhos, até o século XVIII, a burocratas na administração imperial, no século XIX - e a intelectuais, no século XX... (Veja isso com ironia ou não, à vontade ;-))

fa

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RE: Max Jukes

#72403 | magalp | 05 set 2004 20:18 | Em resposta a: #72379

Caros Francisco António e Carlos Paulo

Também eu me interesso pelas chamadas heranças genéticas já abordadas aqui em muito interessantes tópicos que infelizmente não tiveram continuidade.
Também me interessam as notas pessoais, biográficas, nos velhos nobiliários que tantas vezes nos traziam informações come esta de Gonçalo Vaz Coutinho. Igualmente por Allão de Moraes soube que um Coelho, Senhor de Felgueiras tinha uma “amiga” em Lousada que visitava de quando em vez. Um dia veio a encontrá-la nos braços dum turco (creio q. era mesmo turco, pois é gente da minha antipatia…), tomado de grande furor arremeteu contra ele deixando-o como um Lázaro. Depois, amarrou-o ao seu cavalo e partiu a todo o galope, parando a uma légua de distância, em Unhão, onde fez enforcar o dito cujo, que era já morto…
Bem, nos dias de hoje, dos milhentos descendentes do tal Senhor de Felgueiras, não haverá um com topete suficiente para fazer isso a uma desastrada galinha!

Interesso-me igualmente pelas chamadas heranças genéticas já abordadas aqui em muito interessantes tópicos que infelizmente não tiveram continuidade.
Em tempos tentei arrastar para aqui um médico meu velho amigo, que soube consultor ocasional deste Fórum, psiquiatra muito conceituado (por conseguinte tanto ou mais alienado do que eu!), muito entendido em questões genéticas. Entendi que esse distinto Mestre (é seu colega, FA, lá nas químicas cerebrais) poderia partilhar connosco o seu muito saber, mas para tanto não tive os suficientes dotes de persuasão.
Pergunta-me ele um dia, se não me lembrava dos antigos serões familiares, daquelas espécies de “conselhos de família” quando se deliberava sobre a aceitação ou não dum candidato, ou candidata, a noivo ou noiva.
Ele era “perfeitamente bem”, de apelidos sonantes e bem conhecidos, tinha curso superior, e viria a ser herdeiro disto e daquilo.
Mas…
Ela, bonita, simpática, agradável, culta (tocava piano e falava francês…), antiga aluna das Doroteias (quando não do “Sacré Coeur” na Suissa, hélas!), filha e neta de fulano e de sicrano, altos-quadros, financeiros, industriais, detentores de fortes cabedais!
Mas…
Ele era bisneto daquele a quem Camilo se referiu como condenado por tentativa de homicídio, por envenenamento, duma familiar da mulher de quem supostamente viria herdar avultada fortuna. Depois, o avô era um republicanão maçónico, apontado como instigador do assassínio do Senhor Dom Carlos e do “para sempre chorado” Príncipe Real, acabou os seus dias amarrado a uma cama no Rilhafoles!
Ela era bisneta de Fulana, completamente “destravada”, que em seu tempo deu brado nos salões desafiando tudo quanto era homem, com o mais escandaloso “linguarejar” do seu abanico, acompanhando com descarados e provocantes suspiros e olhares lânguidos! Depois, fresca estava ainda a memória da avó que era do mesmo topete, culminou a sua brilhante carreira de escaldantes romances fugindo para Espanha com um toureiro que se exibira em Espinho…

Nesses tempos o dito “conselho de família” tinha a sua autoridade e na maioria das vezes o casamento, aparentemente vantajoso, não acontecia. Hoje, não há já “conselhos de família, não há sequer qualquer admissão de conselho para tanto e para o demais e se calhar, os resultados até nem serão piores. Todavia pude já constatar que a probabilidade de sucesso num casamento (ou contrato nupcial, se preferirem), são indubitavelmente maiores, quando as respectivas famílias têm afinidades entre si, sejam elas familiares, sociais, económicas, sobretudo um sólido relacionamento entre ambas.

Grande abraço!
Manuel Maria

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RE: perfis brasileiros

#72405 | Carlos Silva | 05 set 2004 21:26 | Em resposta a: #72379

Caro Fa,

A dificuldade dos casos Jukes e Kallikak reside, no meu parecer, nos possiveis abusos de confusào entre sociologia e genética, que sào apesar de tudo dois campos diferentes, embora haja interferencias entre os dois sectores.
Assim parece-me que a sociologia deve pretender tirar as suas grandes liçoes e experiencias de situaçoes e casos geneticos « normais » ou pelo menos isentos de patologias graves.


Assunto diferente, e que se relaciona em certos aspectos com o que referiu. queria chamar a atençào do Fa, e outros colegas, principalmente Brasileiros, para um excelente artigo do Psychiatry On-line Brazil, periódico eletrônico brasileiro em Psiquiatria :

"Uma análise Sucinta da Relação Idoso / Família na Sociedade Brasileira Atual, Através da Literatura". Zally Queiroz no On-line Brazil (7) Abril 2002.

Os exemplos estudados têm interesse aqui na medida em que representam de certa forma testemunhas da sociedade em adamento a evoluir e as familias com ela, tema conhecidissimo da “vida quotidiana” do genealogista.
(e por outro lado é sempre bom dar a conhecer a literatura brasileira)

Transcrevo um trecho, e peço desculpa por ser um pouco longo.
------------------------
….. A figura do patriarca rural brasileiro, intensamente presente no inicio deste século, é muito bem retratada por Jorge Amado, em sua obra ¨ São Jorge dos Ilhéus ¨ , escrita em 1944 , e que tem como cenário o sertão da Bahia . O Coronel Horácio Silveira, personagem que surge no romance anterior de Jorge Amado - ¨ Terras do Sem Fim ¨ , vive os últimos anos de sua vida num crescente processo de decadência física e isolamento, porém sem abdicar do exercício autocrático do poder político e econômico , traços que sempre marcaram a sua personalidade . Algumas passagens de ¨ São Jorge dos Ilhéus ¨ , relatam bem esses aspectos de uma vida voltada inteiramente á conquista de terras, ao acúmulo de riquezas e á ascensão ao poder político: ¨ o Coronel Horácio Silveira andou com dificuldades , apoiado em bengala de castão de ouro, até a varanda da Casa Grande. Em frente se estendiam, num suceder infinito, as roças de cacau. O Coronel parou na soleira porta que abria para a varanda , a luz do sol violento doía-lhe nos olhos quebrados pelos anos. O negro velho, quando o viu aparecer , tirou o chapéu respeitosamente . Não fio ajuda-lo por que todos os trabalhadores sabiam que o coronel não suportava que o ajudassem . Andava meio se arrastando apoiado naquele bengala antiga , o rosto por vez contraído de dor, os olhos apertados , mais não tolerava que lhe tomassem do braço para auxiliá-lo a andar ¨ ... ¨ Estava quase cego também, mas o negava, dizia que enxergava perfeitamente. Quando alguém o vinha visitar ; deixava que o forasteiro falasse até que o reconhecia pela voz . Então conversando muito , relembrava coisas, discutia os tempos presentes , o preço do cacau , a possibilidade de alta, a política. A política continuava sendo a sua grande paixão . Conservava a chefia de um dos partidos tradicionais da zona, agora novamente no governo. E metido na casa grande da sua imensa fazenda , meio paralítico do reumatismo , quase cego, era o dono da terra do cacau , fazendo e desfazendo autoridades, senhor de milhares de votos , rico de incalculável riqueza , rico de fazer medo como diziam em toda a extensão daqueles municípios ¨ .... ¨ Nas festas que ofereceram por ocasião do seu octagésimo aniversário , falaram muito da sua obra , no processo que ele possibilitara aquela zona , chamaram-no de construtor da civilização . Mais Horácio sentiu-se terrivelmente ferido quando a pretexto de fazê-lo descansar , quiseram entregar a chefia do partido a um homem jovem , um advogado , novo na zona , rapaz de grande habilidade e de maior ambição ¨. Respondendo as homenagens recebidas , num momento que deveria ser de agradecimento, o velho patriarca assim se expressa : ¨ Isso não parece banquete de aniversário . Parece mais um enterro de um homem rico com os parentes brigando pela herança . È mesmo o que parece ¨ . O temperamento despótico do Coronel Horácio e o direcionamento da sua vida exclusivamente á conquista da fortuna conduziram-no ao estado de isolamento e solidão em que vive os seus últimos dias : ¨ Sua velhice era amarga por estas coisas e ele se voltava , cada vez mais , para a sua fazenda. Por último, não ia mais a Ilhéus , vivia na casa grande , dirigindo as colheitas , brigando como os trabalhadores , cuidado somente pela mulata felícia , que nunca o deixaria e que substituíra Ester no leito do coronel enquanto este estivera forças para o amor ... ¨
Há quem lamente na cidade de Ilhéus e de Itabuna que o Coronel Horácio Silveira , o homem mais rico da terra do cacau , o senhor todo poderoso da política, vivia solitário na sua fazenda ... ¨. ¨ Horácio sabe o que dizem , como sabia há 30 anos . das histórias que contavam na sacristia e nos cabarés , Mais sabe também que não está sozinho . Está com os seus cacaueiros , sua roças, os animais que nela vivem , até com as cobras e com as onças que restaram. Está no meio do seu mundo , é um pedaço dele , não está sozinho e triste ¨. O parente mais próximo do Coronel é o seu único filho , com o qual não tem qualquer forma de relacionamento , não tem qualquer tipo de admiração e pelo qual se sente ameaçado , no que diz respeito a suas terras, à sua fortuna ; uma ação movido pelo filho no sentido de receber a sua parte da herança da mãe falecida há muito tempo, constitui a última razão de luta para o ancião : ¨ Passara a agitação , o movimento , então o Coronel envelheceu , corpo e também espirito , sentia-se já incapaz de reger o seu mundo de cacaueiro. ¨ . ¨ Depois daquele artificial rejuvenescimento no ardor da luta , como quem se entregava a velhice , sem outros desejos que o de ouvir desde a varanda da casa grande o canto dos trabalhadores nas barcaças e nas estufa ¨ . Um novo processo, o de insanidade mental, movida a ganho de seu filho , determina a morte do patriarca , antes que fosse obrigado a passar a mãos , a seu ver incompetentes , o produto de toda uma vida dedicada ao trabalho.
Uma outra figura do patriarca , esta convivendo no mesmo teto com uma extensa família de três gerações, uma figura mais humana , e socialmente integrada , é a do Coronel José Paulino , personagem de José Lins do Rego em ¨ Menino de Engenho ¨ , escrita em 1932, mostrando a sua vida em um engenho de açúcar , no interior de Pernambuco . As personagens e as ações são descritas sob a forma de memórias de infância: ¨ Meu avô me levava sempre em suas visitas de corregedor às terras de seu engenho. Ia ver, de perto os seus moradores, dar uma visita de senhor em seus campos. O velho José Paulino gostava de percorrer a sua propriedade, de andá-la canto por canto, entrar pelas sua matas olhar a sua nascentes , saber das precisões do seu povo, dar os seus gritos de chefe , ouvir queixas e implantar a ordem. O velho José Paulino tinha este gosto: O de perder a vista nos seus domínios . Gostava de descansar os olhos em horizontes que fossem seus¨.
Mais especificamente em seu relacionamento familiar, assim é descrita a figura desse patriarca: ¨O meu avô costumava , à noite, depois da ceia, conversar para a mesa toda calada . Contava histórias de parentes e de amigos, dando dos fatos ao mais pitorescos detalhes... ¨ Estas histórias do meu avô me prendiam a atenção de um modo bem diferente daquela velha Totonha. Não apelavam para a minha imaginação, para o fantástico . Não tinha a solução milagrosa das outras . Puros fatos diversos, mais que se gravaram na minha memória como incidentes de eu tivesse sentido. Era uma obra de cronista bulindo de realidade¨ . Um outro papel que se destacava no rol dos que eram exercidos pelo velho Coronel José Paulino, estava o de atender ás mazelas da sua pequena comunidade: ¨ O meu avô passava no meu quarto para me ver, não tinha febre, dizia, ia se embora. A febre, para ele era um grande mal, o seu grande remédio as lavagens. As moléstias do engenho tinham o seu diagnóstico e sua medicina certa, sarampo, bexiga - doida , papeira, sangue novo. Saindo dali era febre. O velho José Paulino tratava de tudo, fazia sinapismo de mostarda, banhos quentes , óleo de rícino, jacaratiá para vermes . Curava os negros, os netos, os trabalhadores¨.
O personagem de José Lins do Rego, é bem a figura dos últimos patriarcas da nossa aristocracia rural. A agonia de uma casta, o desmoronamento de um mundo, e desativação dos engenhos, o domínio crescentes das usinas, a desumanização da economia pela mecanização da lavoura pela e assim o fim do patriarca rural, aparecem em momentos das obras de Graciliano Ramos. Em ¨ Angustia¨, romance publicado em 1936, encontramos memória dessa decadência no interior de Alagoas e os reflexos sobre o mais velho: ¨ Volto a ser criança , revejo a figura do meu avô , Trajano Pereira de Aquino Cavalcante e Silva, que alcancei velhíssimo . Os negócios da fazenda andava mal, o meu pai, reduzido a Camilo Pereira da Silva, ficava o dia inteiro manzanzando numa rede armada nos esteios do capiar , cortando palha de milho para cigarro, lendo Carlos Magno, sonhando com vitória no partido que Padre Inácio chefiava¨... ¨O cupim devorava os mourões do curral e as linhas da casa . Nos chiqueiros alguns bichos bodejavam . Um carro de bois apodrecia no baixo das catingueiras sem folhas ¨ ... ¨ Minha avó , Sinhá Germana, passava os dias falando só, xingando as escravas, que não existiam. Trajano Pereira de Aquino Cavalcante e Silva tomava pileques tremendos. Às vezes subia a vila, descomposto , um camisão vermelho por cima da ceroula de algodão encaroçado, chapéu de ouricuri , alpercatas e varopau. Nos dias santos, de volta as igreja, Mestre Domingos, que havia sido escravo dele e agora possuía venda sortida, encontrava o antigo Senhor escorado no balcão de Teotoninho Sabiá , bebendo cachaça e jogando 3-7 com os soldados¨ ... ¨Estava pegando um século quando entrou a caducar . Encolhido na cama de couro cru, mijava-se todo, contava os dedos dos pés e caía na madorna ¨... ¨ Acabou-se numa agonia leve que não queria Ter fim. Enterrou-se na catacumba desmantelada que nossa família tinha, no cemitério da vila. ¨
Em ¨São Bernardo ¨ , romance publicado em 1934, Graciliano Ramos acrescenta um outro elemento desse processo de decadência do patriarca rural: o abandono dos velhos povoados pela vida no anonimato da cidade grande: ¨ Por este tempo encontrei em Maceió um velho alto, magro , curvado , amarelo, de suíças, chamado Ribeiro ¨... ¨Seu Ribeiro tinha setenta anos e era infeliz , mais havia sido moço e feliz. Na povoação onde ele morava os homens descobriam-se ao visitá-lo e as mulheres baixavam a cabeça e diziam: Louvado seja o nosso senhor Jesus Cristo, seu Major. Quando alguém recebia cartas, ia pedir-lhe a tradução delas . Seu Ribeiro lia as cartas, conhecia os segredos, era considerado o major. Se dois vizinhos brigavam por terra, seu Ribeiro chamava-os, estudava o caso, traçava as fronteiras e impedia que os contendores se grudassem . Todos acreditavam na sabedoria do Major ¨... ¨O Major decidia, ninguém apelava , a decisão do Major era um prego. Não havia soldados no lugar, nem havia juiz. E como o vigário residia tudo longe, a mulher do seu Ribeiro rezava o terço e contava histórias de santos ás crianças. Seu Ribeiro tinha família pequena e casa grande. A casa estava sempre cheia. Os algodoais do Major eram grandes também¨... Ora, essas coisas se passaram antigamente. Mudou tudo, gente nasceu, gente morreu, os afilhados do Major foram para o serviço militar, em estrada de ferro. O povoado transformou-se em vila , a vila transformou-se em cidade, com chefe político, juiz de direito, promotor e delegado de policia. Trouxeram máquinas e bolandeira do Major parou. Veio o Vigário, que fechou a capela e construiu uma igreja bonita. As histórias dos santos morreram na memória das crianças. Chegou o médico, não acreditava nos santos. A mulher do seu Ribeiro entristeceu, emagreceu e finou-se . O advogado abriu consultório , a sabedoria do Major encolheu-se e sugeriam no foro numerosas questões . Efetivamente, a cidade teve um processo rápido. Muitos homens adotaram gravatas e profissões desconhecidas. Os carros de boi deixaram de chiar os caminhos estreitos. O automóvel, a gasolina, a eletricidade e o cinema . E os impostos¨.
Estas informações todas narradas pelo autor determinam alterações significativas na vida do personagem , acabada a sua autoridade, reduzida a sua renda , desfeita a sua casa e o grupo familiar, pela viuvez e pelo abandono dos filhos. Chega ele á velhice em triste condições, assim descritas por Graciliano Ramos : ¨ Seu Ribeiro enraizou-se na Capital. Conheceu enfermarias de indigentes, dormiu nos bancos dos jardins, vendeu bilhetes de loterias, tornou-se bicheiro e agente de sociedade ratoeiras . Ao cabo de dez anos, com cento e cinqüenta mil reais de ordenados, pedia dinheiro aos seus amigos ¨.
Com cores menos acentuadas que as encontradas no cenário rural do Nordeste , a figura do velho chefe de família também surgiu na obras de autores radicados no Sul do País . Em seu romance autobiográfico ¨Solo da Clarineta ¨ , Érico Veríssimo assim descreveu o avô paterno , figura inspiradora de alguns dos personagens de sua obra literária , particularmente daquelas que relatam a vida no interior do Rio Grande do Sul: ¨ Era baixo, de pernas um pouco arqueadas , testa arredondada e lata. Uma expressão de bondade e bonomia animava-lhe o rosto de marfim antigo ¨... ¨ Era um homem de boa – fé , dotado de uma inesgotável capacidade de tolerância . Foi estancieiro , dentista e finalmente médico homeopata, apesar de não ter sequer acabado o curso ginasial . Como naquele tempo vigorasse no Rio Grande a liberdade profissional, o Dr. Franklin , com sua aguinhas, suas pomadas e ervas, e principalmente com a sua presença sedativa, ia aliviando as dores e curando as doenças da sua numerosa clientela . Guardo minha mãe me mentia na cama, suspeitando que eu estava febril, quantas vezes me animou, com a certeza de que um simples toque da mão do velho Franklin na minha testa seria o bastante para afugentar a febre? ... ¨ O velho Franklin costumava passar todas as noites á mesma hora pela frente da nossa casa, a caminho do seu sobrado ¨... ¨ Habituado naquela rotina noturna, eu ficava na cama, de ouvido atento . As passadas do meu avô para mim era inconfundíveis . O menino sabia, ao dobrar a esquina, o velho soltava a sua tosse breve e seca , espécie de cacoete muito seu. E só depois que cessava o rumor daqueles passos é que eu sentia que tudo no universo estava bem e tudo no seu devido lugar : Deus no céu e o Dr. Franklin no sobrado . Então eu podia fechar os olhos em paz e deixar que o sono me levasse para o reino dos sonhos .¨
As figuras femininas idosas também estão presentes no romance que se inspiraram nesse quadro de patriarca rural brasileiro . São quase todas elas mulheres submissas á autoridade masculina, porém por vezes excedendo com despotismo sua autoridade doméstica . Elas estão ligadas a tradição atribuições femininas no contexto da família, fisicamente desgastadas e desprovidas de charme e beleza.
José Lins do Rego em ¨ Menino do Engenho ¨ destaca três figuras femininas idosas: Tia Sinhazinha, Sinhá Totonha e a velha Generosa : ¨ A minha Tia Sinhazinha era uma velha de uns sessenta anos , irmã da minha avó , ela morava há longo tempo com o seu cunhado . Casada com um dos homens mais ricos daqueles arredores, vivia separada do marido desde os começos do matrimônio. Ela era quem tomava conta da casa do meu avô, mais com um despotismo sem entranhas. Com ela estava as chaves da dispensa, e era ela quem mandava as negras no serviço doméstico . Em tudo isso, como um tirano: meu avô, que não se casara em segunda núpcias , tinha, no entanto, esta madrasta dentro de casa ¨... ¨ A velha Sinhazinha não gostava de ninguém . Tinhas umas preferências temporárias por certas pessoas a quem passava fazer gentilezas com presentes e generosidades. Isso somente para afazer raiva aos outros. Depois mudava, e vivia assim, de uns para outros , sem que ninguém gostasse dela e sem gostar de direito de ninguém ¨. Figura totalmente diferente, Sinhá Totonha cumpria o significativo papel de contadora de histórias e perpetuava assim as tradições culturais da região : ¨A velha Totonha de quando em vez batia no engenho. E era um acontecimento para a meninada, ela vivia de contar histórias de Troncoso . Pequenina e toda engelhada, tão leve que uma ventania podia carregá-la, andava léguas e léguas a pé, de engenho á engenho , com uma edição viva das mil e uma noites . Que talento ela possuía para contar as sua histórias , com um jeito admirável de falar em nome de todos os tons às palavra . Eu ficava calado, quieto, diante dela. Para este seu ouvinte, a velha Totonha não conhecia cansaço . Repetia, contava mais uma, entrava por uma perna de pinto e sai com uma perna de pato , sempre com aquele sorriso de avó de gravura dos livros de histórias . E as suas lendas eram suas, ninguém sabia contar como ela¨... ¨tinha uma memória de prodígio . Recitava contos inteiros em versos, intercalando de vez em quando pedaços de prosa, como notas explicativas¨ ... ¨ Depois Sinhá Totonha saia para outros engenhos e eu ficava esperando pelo dia em que ela voltasse, com suas histórias sempre novas para mim. Porque, ela possuía um pedaço do gênio que não envelhece ¨ .
Outra figura simples, porém exercendo um papel significativo, é a da velha ex – escrava Generosa, que não abandonou o engenho depois da liberdade : a velha Generosa cozinhava para a casa grande . Ninguém mexia num cacareco da cozinha a não ser ela. E viessem se meter nos seus serviços, que tomavam gritos , fosse mesmo gente da sala. Tinha não sei quantos filhos e netos. Negra alta e com braços de homem , tirava uma tacha de doce do fogo, sem pedir a ajuda de ninguém . Só falava gritando, mais nós tínhamos tudo que queríamos dela. A negra Generosa era boa como os seus doces e as suas canjicas¨.
Em ¨ Solo de Clarineta ¨ , Èrico Veríssimo fala de sua avó materna: ¨Dona Maurícia era uma serena trigueira , com feições que lembravam a de uma índia, não Tupi Guarani , mais pele vermelha . Era econômica ao extremo, não só no que dizia respeito ao dinheiro e outros bens materiais, como também a gestos e palavras. Não creio que fosse destituída de afeto, mais era certo que tinha pudor de demonstrar seus sentimentos¨... ¨
Sempre associei o nome a figura dessa avó materna a certos odores coisas de comer e condimentos: noz-moscada , arroz-de-leite, polvilho de canela, doce de figo em caldo com cravo, broas de milho e pessegada com queijo de estância ¨.
Diferente a figura feminina que Jorge Amado nos apresenta em ¨ São Jorge dos Ilhéus ¨ , Don’Ana Badaró. Única sobrevivente de uma família de conquistadores e desbravadores de mata para o plantio do cacau, embora empobrecida e envelhecida Don’Ana não perde a fibra dos Badarós:¨Don’Ana tinha envelhecido na cozinha da casa grande, juntos ao tachos de doce e às panelas de comida¨ ... ¨Don’Ana Badaró ( apesar de tudo que passava , da pobreza e da decadência, ninguém se lembrava de chamá-la Don’Ana Magalhães () ouviu o grito estridente do papagaio e as gargalhadas que ser seguiu , gostosa e redobrada. Tudo aquilo parecia uma caricatura, o artificial da voz do pássaro deformava as palavras, eram quase metálicas, não tinha o calor da voz do capitão. Mais ainda assim Don’Ana sorriu ao ouvir a frase, o rosto se abrindo em esperança : - Don’Ana , vamos enriquecer de novo¨... Agora já falava nos netos , para eles pensava em plantar as terras, em fazer crescer mais uma vez a fortuna dos Badarós. E sonhava, no silêncio do seu quarto , em que alguns dos netos usassem seu nome que desaparecia¨... ¨ Entre os sonhos de um futuro melhor do que os filhos, genros e netos, a lembrança daquele passado esplendoroso , vive Don’Ana Badaró. Onde está aquela morena tímida de antigamente, tímida entre os olhos enamorados de João Magalhães , afoita e decidida no entanto , com o mais corajoso dos homens , num momento de barulho , de luta e de sangue? Trinta anos tinha rolado sobre ela e hoje seu cabelo negro embranqueceu, seus olhos tão belos murcharam, suas carnes duram amoleceram . Trinta anos de vida pobre quebram uma pessoa. Em Don’Ana, porém , residia um orgulho eu a sustentava por dentro , que impedia o ruir dos seus sonhos juntamente com o envelhecimento de seu corpo . Numa arca que jamais era aberta estavam as lembranças mais queridas dos tempos da fortuna dos Badarós¨ ... ¨Mais não passa dia que Don’Ana não recorde aqueles tempos, são recordações que lhe dão ânimo para sonhar um futuro menos medíocre. E, se bem não fale no passado, é Don’Ana que zela por toda essa tradição, é ela quem vive a história dos Badarós, quem impede que tudo apodreça nesses tempos novos ¨.
Etc…

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RE: Mais Coutinhos e mais violencia

#72409 | Carlos Silva | 05 set 2004 22:45 | Em resposta a: #17320

Caro José de Azevedo Coutinho,

Novamente é rogado a este topico passados dois anos.
Nào sei como evoluiu o seu parecer sobre a questào tratada.
No entanto o exemplo que evocou, muito interessante em si, chama a atençào para um comportamento que nào é meramente do foro psiquiatrico ou genetico como o dos anteriores Coutinhos.
Temos entào testemunho de uma comportamento geral extremamente violento, mas que nào parece isolado no sec. 15. Ou que existisse o mesmo antes sem ser referido e com maior grau de aceitaçào, ou que o reinado de D. Afonso V deixasse lugar a todos os abusos da nobreza, e principalmente nas areas perifericas do pais, o que é apesar de tudo mais provavel.

Irrequietos e por vezes passando dos limites da criminalidade, os nossos Coutinhos, meu caro, para manter o assunto dentro da mesma linhagem.

Antes de mais Fernào Coutinho, amplamente biografado por Humberto Baquero Moreno

- A representação do Concelho de Guimarães nas Cortes de Lisboa de 1446
Resvista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto – Historia ; Série II, Vol.1, 1984
ou
Biografia de Fernào Coutinho no livro « A batalha de Alfarrobeira ».

Perdeu o cargo de Fronteiro de Pinhel que tinha recebido do Rei, por causa das violencias cometidas contra os habitantes do lugar (1454).

Uma continuaçào das queixas proferidas anteriormente nas Cortes de 1441 (Torres Vedras) e 1442 (Evora) por abusos e roubos contra os lavradores da regiào do Porto, e em 1446 (Lisboa) contra prepotencias no Couto de Belmir (no qual nàosei tivesse direito), em Guimaràes, chegando a prender no seu castelo de Celorico de Basto filhos dos habitantes como refens.

Nào menos impulsivo o sobrinho, Fernando Coutinho, conde de Marialva, cuja impressionante lista de malfeitorias e de vitimas em Pinhel foi tambem estudada.

Nestes casos estamos no campo das relaçoes sociais, e os abusos destes dois Coutinhos, parecem do « foro sociologico » aproveitando eu a expressào usada pelo José.

Para achar um caso em que os abusos e violencias parecem nào ter limites ou, melhor, limites que a priori poderiam deixar pensar falsamente que estamos de volta ao foro psiquiatrico é necessario sair da linhagem dos Coutinhos para abordar a dos Abreus do Alto Minho (bem longe do Rei, ainda mais que os Coutinhos).

A carreira de violencias de Lopo Gomes de Abreu, senhor de Lapela no sec. 15, contra o primo Joào Gomes de Abreu é impressionante.
Mandou fechar as portas de Monçào para tentar matar dentro da vila o primo, primeiros com as proprias màos e depois mandando seus homens escalar pelo telhado para disparar no peito do primo uma palheta envenenada, que o deixou perto da morte.
Em Gondomil prendeu quatro criados do primo que foram levados para Lapela sob prisào,um ferido com uma lança.
Assassinou Alvaro Dias e feriu quatro ou cinco homens do primo Joào Gomes que achou no mosteiro de Longos Vales.
Mais umas ciladas, mais uns feridos e mortos, mas tambem roubos, outras ciladas e mais mortos, prisoes e roubos, contra proximos do parente inimigo.
Fazia-se acompanhar por toda a casta de malfeitores, homicidas, ladroes e moedeiros falsos, pois era senhor de Lapela que era Couto de homiziados (que assim fornecia uma preciosa mào de obra para tào talentoso sujeito).

Acabou por ser preso e detido na cadeia da moeda velha.
A prisào durou pouco. Fugiu através de uma janela.
Como o fugimento nào implicou rompimento de cadeia, nem salto por cima do muro (nào precisou pelo visto) obteve carta de segurança.

O perdào real era muitas vezes a "pena maxima", o que pode servir em conclusào para explicar o comportamento anti-social de nàopoucos fidalgos do reinado de D. Afonso V… e talvez o comportamento violento inclusive com os proximos no seio da familia.

Claro que a ausencia de travoes na sociedade e na familia pode nos fazer voltar ao campo da psiquiatria.

Abraço
Carlos Silva

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RE: Santa Quitéria e Santa Tereza

#72411 | Carlos Silva | 05 set 2004 22:53 | Em resposta a: #72366

Devo perceber que « estirpe de Santa Tereza, 19 » é capitulo, parte ou referencia do livro de Nertan Macedo, « o clã de Santa quitéria », ou ha equivoco devida à parecença dos titulos ??

Carlos Paulo

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RE: Santa Quitéria e Santa Tereza

#72433 | doria_gen | 06 set 2004 10:20 | Em resposta a: #72411

Prezado Carlos,

Há, de fato, um livro de Nertan Macedo, _O Clã de Santa Quitéria_, sobre famílias cearenses. Mas pelo que vi nas listas brasileiras, trata-se de um livro sobre gente que morou ou mora no bairro de Santa Teresa, no Rio, não? Vou ver o que lá responderam e ponho aqui.

fa

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RE: perfis brasileiros

#72435 | doria_gen | 06 set 2004 10:27 | Em resposta a: #72405

Nada tenho a acrescentar, salvo duas menções pequenas:

- Meu avô paterno, Raul Moitinho da Costa Doria, era capitão da guarda nacional em Sergipe - ``seu coroné.''

- Jorge Amado faz, em _Tenda dos Milagres_, a história social da Faculdade de Medicina da Bahia. Todos os personagens são identificáveis, e noto em especial Ildásio Taveira/Ildásio Tavares.

fa

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RE: Max Jukes

#72436 | doria_gen | 06 set 2004 10:29 | Em resposta a: #72403

Prezado amigo Manuel Maria,

Algum dia vou contar, ao jeito de crônica, a história social da minha família. Garanto que é coisa interessante :))

Gdes abcs, fa

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RE: Santa Quitéria e Santa Tereza

#72441 | Carlos Silva | 06 set 2004 11:12 | Em resposta a: #72433

Caro Fa,

Explico:

O livro é suposto dar noticia da familia "Ribeiro Calado".

Passo a citar o Dicionario de familias Brasileiras de Eduardo Barata:
"Antiga família, de origem portuguesa, estabelecida em Pernambuco, para onde passou, antes de 1751, Thomaz Varela de Lima, cuja descendência do seu cas. com Mariana Ribeiro Calado, nat. do Cabo (PE), assinam-se Jesus e Ribeiro Calado (Estirpe de Sta. Tereza, 19). "

O autor, neste forum, escreveu mais :

"Entre parênteses, está a fonte deste texto. Infelizmente não tenho este exemplar em minha biblioteca. O mesmo, vi nas estantes do Colégio Brasileiro de Genealogia, rua Augusto Severo, n.º 8 - Centro/Lapa - Rio de Janeiro.

Na forma que havia elaborado este verbete, me faz crer que o autor daquele livro deu o encadeiamento genealógico daquela família. "

Nào tenho mais entrada concreta para a minha genealogia brasileira no dia de hoje, muito infelizmente sem conseguir saber mais sobre esta referencia, para tentar saber se foram os mesmos que os que eu estudo.

Carlos Paulo

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RE: Santa Quitéria e Santa Tereza

#72443 | doria_gen | 06 set 2004 11:52 | Em resposta a: #72441

Prezado Carlos Paulo,

Estou repassando a sua msg às listas brasileiras. Embora seja sócio titular do CBG, lá tenho ido pouco. Vou ver se alguém olha o livro nas nossas estantes.

Já devo ter um retorno, que posto aqui. Gdes abcs, fa

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RE: Santa Quitéria e Santa Tereza

#72547 | Carlos Silva | 07 set 2004 09:50 | Em resposta a: #72443

Caro Fa,

Devo provavelmente à sua intervençào o gosto de receber uma resposta de Regina Cascào em pessoa.

Em fin de contas era :

A Estirpe da Santa Teresa: subsídios para a
genealogia dos Terésios, Paes Landim, Jesus, Cruz,
Neves Cruz, Saraiva da Cruz, Santana, Macêdo,
Lôbo de Macedo, Dias Sobreira, Olegária e muitos
outros.

de Joaryvar Macedo
Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 1976, 1224 p.

... que se acha de facto no CBG.

Obrigado pela ajuda.
Abraçào
Carlos Paulo

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RE: sociologia / historia da familia

#72550 | Carlos Silva | 07 set 2004 11:03 | Em resposta a: #72403

Caro Manuel Maria,

A proposito do Coelho de Felgueiras, é tipicamente daqueles que tornam uma genealogia viva e a bem dizer, literaria, tal como um Bragançào Fernào Mendes « o Bravo », ou em certa medida como os Coutinhos varias vezes referidos no topico.

Em regra pode parecer que os melhores sào precisamente aqueles que preferimos nào conhecer pessoalmente. Claro que outros orientam-se talvez pelo bem e nào cultivam « o lado escuro da força ».

Nà podemos considerar insipidos « os Santos Condestaveis » .

Tivemos tambem oportunidade em certo topico sobre Alcacer-Quibir e o cativeiro de alguns portugueses, de referir que as desgraças dos antepassados (nào muito recentes de preferencia) fazem muitas vezes as deliciais do descendente genealogista, que nào se as deseja a si proprio.

Mas uma genealogia sem os elementos biograficos, conhecidos ou deduzidos, verdadeiros ou em certa medida lendarios (i.e. assumidamente), é um esqueleto de genealogia.

A proposito do tal conselho de familia, julgo que apenas toca uma pequena esfera social que nào pode servir para definir o Portugal de entào.

As estrategias familiares existiam de qualquer modo, na provincia, no meio rural em geral, mais ou menos felizes, e seguidas com mais ou menos exito.

Ana Silvia Volpi Scott no seu livro « Famílias, Formas de União e Reprodução Social no Noroeste Português (século XVII e XIX) apresenta varios aspectos interessantes.

Até aos finais do sec. XIX ja bem maduro a proporçào de solteiros era forte. Por falta de homens certamente, por faltas de recursos para casar conforme determinado estado (aspectos complementares).
Em consequencia a taxa de ilegitimidade era muito forte, pois as estrategias que tentavam manter certos filhos (e filhas) no celibato tinham « humanais » limites, como é obvio.
As estratégias que queriam concentrar uma forte parte da herança patrimonial sobre a pessoa de uma filha solteira de forma « transitoria » antes de regresso a uma linha sucessoria tinha alguns tambem, me parece.
A repartiçào praticada pela « tia solteira » podia fazer-se sem linha definida, ou seja muito à vontade, e sem ter em conta nenhum conselho de familia.
Mas antes de tudo, em alguns casos, a herdeira votada ao celibato, com ou sem consentimento pessoal, mal se via na posse de uma larga herança tornava-se um partido vantajoso.

A Dra Volpi Scott ao estudar de forma secundaria a familia Leitào de Almeida, sob varios aspectos interessante, nào soube que a implantaçào desta familia transmontana em 1700 no concelho de Guimaràes é precisamente devida ao fracasso de tal estratégia, quando uma herdeira, solteira, de idade madura, contemplada pelos pais, e depois privilegiada pelo testamento do irmào mais velho, padre, nào se deu por satisfeita no estado de tia solteirona.
Casou, teve um filho que, ele, concentrou forte porçào dos bens no seu novo e imprevisto ramo.

Para acabar, creio bastante inseguro uma analise social, sobre o casamento, sem determinada metodologia. Em contrario existe perigo de por em analise as suas proprias percepçoes individuais.

Mas o assunto abordado pelo Manuel Maria foi amplamente e felizmente estudado, creio, e o seu gosto pela sociologia pode achar uma larga literatura recente para seu maior prazer.

O meio social tem obviamente certa influencia sobre a « duraçào » do casamento, assim como a força da pressào social.
A semelhança dos meios de origem dos casados talvez tambem ?

Certo que antigamente qualquer casamento via a uniào de pessoas de meios sociais parecidos. Ainda se mantem exacto hoje, embora os meios sociais pareçam mais permeaveis.

Certo tambem que antigamente qualquer casamento (provinciano e nào so) durava « até ao fim » previsto na celebraçào. Bem, mal ou muito mal.

Meu bisavô praticava uma forma de uniào muito estavel, é certo, e em ambos os seus lares.

Desculpe esta confidencia pessoal, e aceite um abraço.

Carlos Paulo

P.S. : O manuel Maria é sem duvida o cliente adequado para as publicaçoes do NEPS

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RE: Santa Quitéria e Santa Tereza

#72556 | doria_gen | 07 set 2004 12:12 | Em resposta a: #72547

Que bom que vc teve resposta pronta. Vou agradecer à Regina também.

Não tenho ido ao Rio; estou trancado em Petrópolis, trabalhando, há quinze dias. Minha mulher tem ido lá, em descidas rápidas. Vou ver se alguém arranja o texto para você.

Gdes abcs, fa

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RE: Santa Quitéria e Santa Tereza

#72558 | Carlos Silva | 07 set 2004 12:39 | Em resposta a: #72556

Caro Fa,

A Regina Cascào parece que vai poder consultar.
Pelo menos percebi assim.

Caso haja algum problema eu digo algo depois.
Mais um vez obrigado.

Abraço
Carlos Paulo

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RE: Santa Quitéria e Santa Tereza

#72560 | doria_gen | 07 set 2004 13:07 | Em resposta a: #72558

Por favor, me mantenha informado. Ajuda física, no momento, está difícil, mas sempre posso pedir a algum amigo.

Gdes abcs! fa

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RE: Mais Coutinhos e mais violencia

#72621 | S.João de Rei | 08 set 2004 10:40 | Em resposta a: #72409

Caro Carlos Paulo

Ainda bem que concorda comigo em relação ás consequências de uma possível forte endogamia e o surgimento de taras tão evidentes.
Em relação ao aspecto sociológico, desculpe mas não concordo consigo. Os acontecimentos brutais da idade média, sempre têm um efeito aterrador para a nossa civilização Cristã actual, ou melhor o que resta dela.
Estes efeitos não só eram praticados pela nobreza como pela população em geral. O banditismo de estrada, por exemplo, esteve presente por exemplo até à pouco tempo atrás !
As brutalidades efectuadas por alguns elementos da nobreza, tinham mais impacto pelos “media” da altura, cronistas, olá, lux etc. Mas efectivamente a meu ver tinham fundamentalmente razões genéticas, provocadas por excesso de endogamia. Consequência como sabe do figurino da economia da época.
A violência, o despotismo, a arrogância nunca foram tão fortes como na actualidade. Debaixo desse manto de pureza, promovida pelas quadrilhas (republica) existe de facto toda uma impunidade de gangs que tanto aqui como aí fazem a festa, como sabe. Os escândalos dentro do sistema judiciário acumulam-se, a dependência do poder político/sistema é mais que evidente. A forma de reacção da canalha, devidamente “instalada” e o ar cândido, tem o mesmo procedimento devidamente estudado.
A diferença é que em Monarquia a sério, a população em geral, em ultima instância tem a quem recorrer ... ao Rei.
Numa república ou numa real república, de cosmética “monárquica” efectivamente só resta a sorte.
Um abraço,

José de Azevedo Coutinho

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RE: Mais Coutinhos e mais violencia

#72630 | Carlos Silva | 08 set 2004 11:48 | Em resposta a: #72621

Caro José,

Eu nào confundo os casos de violencia do foro psiquiatrico que tivemos oportunidade de trocar no topico com prepotencias e abusos de poder, ou com banditismo.

Quando o José sugere que toda a populaçào, na idade media, ou no sec. 15, ou até uma época recente, devia ser violenta para os nossos criterios, escreve pela mesma ocasiào os limites da explicaçào genetica.
Porque, mesmo fosse assim, a populaçào nào era toda « tarada », como confesso creio que os Coutinhos (ou os Abreus) tambem nào o eram.
Mas « tarados » sào por exemplo, hoje em dias, muitos membros de certos pequenos meios de algumas ilhas tropicais francesas, descendentes de familia da pequena-media nobreza francesa (em regra, de Bretanha) que se estabeleceram no sec. 18, e que a muito entraram em fase de franca decadencia social, e genetica por causa de uma muito forte consanguinidade e um isolamento quase total, fugindo à miscigeneizaçào (pois vivem rodeados de mulatos descendentes de Africanos, e nào têm meios de ir buscar parceiros ao longe). So visto mesmo. No entanto nào significa que sejam violentos, nem em caso. Nem là fora até que porque nào têm a minima hipotese de o ser.
Nào cometem propotencias, e possiveis casos de violencia (se é que sào violentos) nào derivam destas.

O mesmo nào se dà no caso de Fernào Coutinho, que penso nào era tarado, mas que tinha ou julgava ter meio de constranger as populaçoes, e assim procedia. A fraqueza do poder real deixava multiplicar os casos.
Nào significa, como é obvio, que apenas a nobreza esteva em causa. Até porque, como veio referido em certa parte deste topico, o senhor de Lapela (dos Abreus) tinha na sua « alçada » um couto de homiziados, cujos criminosos degredados forneciam provavelmente uma mào de obra experimentada em todas as sorte de criminalidade (no referido caso tratava-se essencialmente de tentar assassinar o primo Joào Gomes de Abreu e os respectivos servidores).

Claro que a sensibilidade da época, a evoluir para a renascença quinhentista podia provocar mais pareceres dos « medias » de entào.
No entanto, quer queiramos quer nào, temos sensivelmente mais casos no reinado de D. Afonso V, e menos nos de D. Joào I, D. Duarte, e depois D. Joào II e D. Manuel.
E que medias ? As queixas dos concelhos, ou das autoridades religiosas, nas Cortes ou na corte de justiça. Questào portanto de dimensoes. Obviamente.

As razoes na maior parte dos casos nào eram geneticas, nem psiquiatricas, mas sim ao contexto politico e social do reinado de D. Afonso V.

Nào impede que existissem os casos de barbas azuis. Os casos de uxoricidio pelos quais entramos na materia devem provavelmente mais à genetica ou à psiquiatria do que a razoes ligados à sociedade de entào (nào desaparecem contudo por absoluto).

A questào era saber onde começa o lado patologico da violencia dos casos que referimos. Em certos casos é obvio. Noutros nào.

Agora, repare, temos um problema. Quando estudamos genetica estamos no campo médico em que a analise ponderada da situaçào nào é nada facil, passados 500 anos sem testemunho preciso.
O mesmo com a psiquiatria.
As fontes faltam.

Mas se conseguimos definir quais casos sào do foro psiquiatrico, ainda nos restaria saber se derivam de razoes sociais (alguns) ou geneticos (outros), assim no caso do sujeito do sec. XV que referiu a dar cutiladas na mulher.

.... diz o leigo

Carlos Paulo

com um abraço

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RE: Gonçalo Vaz Coutinho, "que falou depois de morto"

#206706 | Carlos Silva | 29 ago 2008 22:35 | Em resposta a: #9144

Renovo pedido no sentido de saber se algum colega tem conhecimento do episodio de S. Domingos das Donas metendo D. Joao II e Gonçalo Vaz Coutinho (depois de morto).

Alguem sabe mais sobre essa curiosidade?

Lembrando a mensagem de inicio:

A proposito de Gonçalo Vaz Coutinho, filho 1° de Fernào Coutinho, senhor de Basto, escreve Alào de Moraes « morreu por justiça em Santarém, por tratar mal sua 2a mulher, sendo ainda seu pai vivo. Este foi o que falou, depois de morto, com el-Rei D. Joào II, em santarem, em S. Domingos das Donas »
Acrescenta que matou a 1a e a 2a mulher sem causa, « pelo que morreu degolado ».

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RE: Gonçalo Vaz Coutinho, "que falou depois de morto"

#206741 | Panonias | 30 ago 2008 13:26 | Em resposta a: #206706

Caro Carlos Silva

Voltou depois de 7anos, isso é que é persistência!!!

Gonçalo Vaz Coutinho é primo do Gonçalinho, ambos descendentes de D.Vataça, a grande Senhora na Vida e na Morte, "Vatatza, es dedicà a obres de pietat i al misticisme, juntament amb la reina Elisabet."

Eles falavam mesmo com os mortos, o Espírito Santo tem desta coisas!!! Até está escrito....

Saúdo-o

Zé Maria

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Gonçalo Vaz Coutinho "que falou depois de morto"

#206834 | Carlos Silva | 31 ago 2008 19:03 | Em resposta a: #206741

Caro Zé Maria,

Agradeço a sua tao humoristica mensagem.

contudo, queira aceitar que eu deixe neste forum um topico a requisitar afinal nada mais que uma pequena informaçào bibliografica, provavelmente ligada ao reinado de D. Joao II, para identificar a fonte que serviu ao Alao de Moraes.

De forma que renovo pedido no sentido de saber se algum colega tem conhecimento do episodio de S. Domingos das Donas relativo a D. Joao II e Gonçalo Vaz Coutinho (este depois de morto).

Alguem sabe algo mais sobre essa curiosidade?

Lembrando a mensagem de inicio:

A proposito de Gonçalo Vaz Coutinho, filho 1° de Fernào Coutinho, senhor de Basto, escreve Alào de Moraes « morreu por justiça em Santarém, por matar mal sua 2a mulher, sendo ainda seu pai vivo. Este foi o que falou, depois de morto, com el-Rei D. Joào II, em santarem, em S. Domingos das Donas »
Acrescenta que matou a 1a e a 2a mulher sem causa, « pelo que morreu degolado ».

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RE: Gonçalo Vaz Coutinho

#206841 | Panonias | 31 ago 2008 20:42 | Em resposta a: #206834

Caro Carlos Silva

Não estou a humorar em nada!!! D. Gonçalo Vaz Coutinho e Gonçalo da Fonseca, o que ficou conhecido por o Gonçalinho, são ambos efectivamente descendentes de D. Vataça, eles eram trinetos de D. Vataça. Os seus ascendentes remontam a romanos de apelido Fronteio que vieram na embaixada de D. Vataça, para Portugal, que depois se entroncaram na Casa do Couto de Leomil e Condes de Marialva. Eram fidalgos da Casa Real, ou não fossem eles ainda descendentes de D. Vataça, a Senhora que fez do Cabido de Coimbra, um dos mais ricos da Europa.

Agora voltando a falar com os mortos. Você sabe que D. João II habitou nos conventos de S. Francisco de Alenquer, Castanheira, Torres Vedras, Setubal e Évora, entre muitos outros. Porque ele era sobretudo um franciscano e porque gostava de falar com os mortos, no ano de 1493 enterrou o Conde de Penamacôr, que era um seu "inimigo" no de Castanheira onde vivia. No ano de 1483, enterrou o seu primo o Duque de Bragança no de Évora onde vivia. No ano de 1484 enterrou o seu primo D. Diogo no de Setubal na campa do seu pai (depois mais tarde foram transladados para Beja) onde também vivia.

Ora sucedeu que D. João II:

Em 1495 ainda falava com Dom Pero de Albuquerque, conde de Penamacor.

Em 1493 ainda falava com D. Diogo, seu primo e Duque de Beja e Viseu.

Em 1494 ainda falava com D. Fernando, seu primo e Duque de Bragança.


Então só poderemos concluir que D. João II enterrou os seus inimigos da "teoria da conspiração" nos Conventos onde vivia, para lá poder falar com eles, "mortos".

Não me admira nada que ele tivesse feito o mesmo com um trineto de D. Vataça e primo do Gonçalinho, este mesmo que D. João II tanto admirava que até mandou escrever um capítulo na sua Crónica, só para lhe chamar GONÇALÃO.

Ainda há muito para escrever na História de Portugal, sobre os que falaram depois de mortos.
EMANUEL foi o primeiro, mas esse só Pilatos e Heródes saberão porque eles eram Vigilantes da Cidade de Jerusalém.
JACOB foi o segundo, mas esse só D. João II saberá porque ele era Rei de Portugal.

Cpts

Zé Maria

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RE: Gonçalo Vaz Coutinho

#208719 | filipe30 | 19 set 2008 15:17 | Em resposta a: #206841

Gonçalo Vaz Fonseca Coutinho que viver por volta de 1415 e pai de joão da fonseca são da mesma familia que Gonçalo vaz coutinho?

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RE: Gonçalo Vaz Coutinho

#336524 | vmo123 | 10 out 2013 05:33 | Em resposta a: #206841

Caro confrade Zé Maria,

o senhor teria maiores informações pra me dar sobre essa família Fonseca Coutinho?

Descendo de Vasco da Fonseca, que segundo Manuel Abranches em sua página na internet, disse ser filho de Diogo da Fonseca e de Joana Mendes e neto de Gonçalo da Fonseca e de D. Bataça ou Vataça Laskaris, ainda acrescentou que Gonçalo da Fonseca era filho ilegítimo de Vasco Fernandes Coutinho, senhor do couto de Leomil.

Com os melhores cumprimentos,
Vinícius.

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