Duarte Luís de Abreu, Ilha de S. Miguel

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Duarte Luís de Abreu, Ilha de S. Miguel

#198128 | S.João de Rei | 27 mai 2008 04:17

“Duarte Luís de Abreu, natural da ilha de S. Miguel (Açores), que por vezes passou a África com gente e armas à sua custa, em socorro das nossas praças, e se deixou ficar em Mazagão, que ajudou a defender valorosamente do cerco que no 1° de Março do ano de 1562, lhe pôz o Xarife Muley Muhammed. E de sua primeira mulher D. Antónia, com quem fora casado da mesma ilha.”
Alguém terá conhecimento deste meu Avô, natural de S. Miguel na primeira metade do século XVI?
Foi pai de Leonor de Abreu, minha Avó e de Maria Capela ...
Aqui no Geneall aparece http://www.geneall.net/P/per_page.php?id=184355
Cujo irmão Estevão Gama também terá servido em Mazagão. Nenhuma das três mulheres referidas tem o nome de Antónia, no entanto sua mãe aparece-nos com o nome Antónia da Gama!
Agradeço antecipadamente qualquer informação.
Cumprimentos,

José de Azevedo Coutinho

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Grande Cerco de Mazagão em 1562

#198234 | S.João de Rei | 27 mai 2008 20:53 | Em resposta a: #198128

A propósito de Duarte de Abreu e a sua intervenção na defesa de Mazagão quando deste Cerco, resolvi colocar a descrição em forma de diário escrita pelo Mazaganista , Augusto Ferreira do Amaral, em várias partes.
Curiosamente não é descrita a presença de Duarte de Abreu, mas referido a presença de gentes da Madeira e dos Açores.
Nesta narrativa é bem patente a coragem, espírito de sacrifício, solidariedade e nobreza das nossas gentes de então.
Cerca de dois meses durou este cerco, tendo sido um dos principais dessa epopeia.
Apesar da forma de luta habitual ser em campo.
Praça fundada em 1505, com a vida de 450 Portugueses, abandonada 264 anos depois.

José de Azevedo Coutinho


1562

Fevereiro
Vieram de Marrocos um árabe cristão-novo, chamado Nicolau da Conceição, que fora tratar de resgates, e um cativo e disseram ao capitão interino, Rui de Sousa de Carvalho, que todo o aparato de guerra nesse tempo levantado pelo xerife era contra cristãos (carta de Rui de Sousa de Carvalho à rainha D. Catarina de 16 de Janeiro de 1562, ibidem, parte l.a, maço 105, doe. 89). Apesar das reservas normalmente feitas a estas informações, Rui de Sousa de Carvalho mandou que se fortificasse a Porta da Vila e outros lugares. O capitão Fernão de Castro, soldado velho e experiente, com uma companhia de duzentos soldados, pôs-se a fortificar o baluarte mais fraco da fortaleza, que nunca fora acabado. E o mesmo fizeram nos outros baluartes os outros capitães e soldados. O xerife mandou então à praça um cassise negro, fingindo que queria tornar-se cristão, a fim de espiar as defesas e a artilharia dos portugueses. Foi recolhido em casa do almoxarife João de Oliva, frequentando a igreja com muita assiduidade e, entretanto, foi tomando apontamento de tudo.

28 de Fevereiro
O alcaide de Azamor veio com grande soma de gente de pé e de cavalo, bem ordenada, dando grandes gritos e alardos e fazendo grandes festas, e começou a assentar as suas tendas no outeiro do Retamal, a menos de meia légua da fortaleza. Mandou um alfaqueque ao capitão Rui de Sousa de Carvalho, por nome Cide Gamene, anunciando-lhe que o filho do xerife vinha cercar a praça. Rui de Sousa de Carvalho retorquiu-lhe «que viese m.to em boa hora que aqui o estava esperando nesta fortaleza com muitos marmellos e pêros e romãs e outras frutas desta calidade da qual não avia falta nesta fortaleza». Mandou logo embandeirar todos os muros, baluartes, lanços e torres, «porq desta m.ra seria principio da destruição dos mouros».

1 de Março
O filho do xerife, Mulei Muhamed, chegou com as suas tropas e começou a assentar o seu acampamento a meia légua da fortaleza. O capitão interino mandara entretanto um navio, à pressa, pedir socorro ao Reino.

3 de Março
Ao amanhecer apareceram postas mais de cinco mil tendas, brancas e negras, desde o outeiro do Leão, a perto de uma légua, até às taipas de El-Rei de Fez, além de outras de trás de Boa Fé, até à cidade de Tite. O circuito das tendas era maior do que Lisboa na época.

5 de Março
O espião negro roubou doze moedas de mil réis ao almoxarife, queimou-
-lhe papéis, saltou por uma janela, foi ao muro pela escada do Armazém e lançou-se das ameias para a cava. Quebrou uma perna, mas conseguiu acolher-se aos mouros que o aguardavam naquele local. Houve grande arcabuzada de parte a parte. Como uma bombarda da fortaleza, chamada «Águia», atingisse as tendas mais próximas, Mulei Muhamed mandou afastá-las, ficando instalados, dali até Azamor, três arraiais, de tal maneira que, no espaço de três léguas, se alojaram cerca de cento e cinquenta mil homens.

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#198322 | S.João de Rei | 28 mai 2008 13:14 | Em resposta a: #198234

7 de Março
Mulei Muhamed mandou o alfaqueque Cide Gamene, um escrivão e outros mouros, a Rui de Sousa de Carvalho «dizendo que té gora fora sua vontade de esta sua fortaleza estar pellos Cristãos, e agora que elle estava alli queria que lha despejase e que lhe mandase as chaves delia e que se fizesem prestes para se embarcarè todos», oferecendo-lhes embarcação para França e para Castela. Se não entregassem a fortaleza, jurava matar todos os que lá encontrasse dentro. O alfaqueque transmitiu o recado de fora dos muros. O capitão, que estava no Baluarte do Santo Espírito, respondeu-lhe «q soubese S. A. que esta fortaleza era delRey de Portugal, e toda estoutra terra e que também soubese que aqui que estavão Portugueses e m.to leáes a seu Rey e que com bons cavalleiros lha avia de defender a ponta da lança e espada». Fernão de Castro, capitão deste baluarte, disse ao alfaqueque: «como bom Cavalleiro o ey de deffender como tu bem veras». Nisto mandou desenrolar as bandeiras e começaram a disparar a artilharia e a espingardaria para os mouros, que estavam descobertos por cima das trincheiras. Os mouros tinham começado, na noite anterior, a fazer uma trincheira do lado de Azamor, a cerca de mil e duzentos metros dos muros. Trabalharam sobretudo de noite. As suas trincheiras eram muito altas e largas, e feitas em caracol, com becos e travessas e protegidas da artilharia. O mestre dessas obras era um castelhano de Elche, chamado António de Longronha, que, quando o alfaqueque falava, saiu passeando até a borda da cava, medindo as distâncias. Quando a trincheira do lado de Azamor chegou a pouco mais de trezentos metros do Baluarte do Santo Espírito, os mouros fizeram um bastião, onde plantaram artilharia. Rui de Sousa de Carvalho mandou que se acendessem faróis no baluarte, de modo que se vissem melhor os que construíam o bastião, o que levou a que fossem mortos muitos deles. Do bastião começaram os mouros a atirar com artilharia grossa aos navios e à fortaleza, mas sem fazerem prejuízo à baía.
9 de Março (deve ser confusão com a data dos factos adiante relatados)
Vendo que não podiam bloquear assim o porto, os mouros mudaram a artilharia e levaram-na para os revelins defronte da ponte da Porta da Vila. Assentaram aí dezassete peças de artilharia grossa, para baterem os muros da fortaleza, a cerca de quarenta passos destes. Entre elas havia uma poderosa, a «Maimona», que, depois de seis tiros, rebentou. Os bombardeiros portugueses mataram-lhes quatro dos mouros e conseguiram meter um pelouro por uma bombarda destes, rebentando-lha.

19 de Março
À noite, os mouros abandonaram as estâncias que haviam feito e a artilharia que lá tinham.

20 de Março
Voltaram os mouros àqueles locais, com uma feiticeira, para os incitar, mas esta foi derrubada por uma arcabuzada. Os mouros fizeram então, à noite, descargas de artilharia, sem causarem dano ao baluarte. Deste, por ordem do seu capitão Fernão de Castro, fizeram os cristãos grandes descargas, matando cerca de quinhentos mouros, com a ajuda do luar e gastando perto de um quintal de pólvora.

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#198335 | S.João de Rei | 28 mai 2008 15:32 | Em resposta a: #198322

Fins de Março
Os mouros prosseguiram o seu trabalho e chegaram junto do Baluarte do Santo Espírito, levantaram um bastião onde assentaram duas grandes peças de artilharia com mantas. Passaram depois a abrir ao longo da cava uma pande trincheira, com o que cercaram a fortaleza de mar a mar. Em frente do Baluarte de S. Sebastião, junto do mar, puseram cinco bandeiras de gente de cavalo e turcos arcabuzeiros. O fidalgo Pedro Lourenço de Melo e os cavaleiros Pedro Fernandes de Pontével, Fernão Vieira, Pedro Rodrigues, Domingos Gonçalves, Luís Fernandes e Baltasar de Pomares, saíram pela Porta do Mar, junto ao muro, para irem encobertos e, repentinamente, Maçaram a guarda do alcaide Cabus, de Azamor. Surpreendidos, fugiram vários mouros e os restantes dessa guarda foram alanceados. Luís Fernandes disparou o arcabuz, mas foi então acometido por um mouro. O português defendeu-se batendo-lhe com o arcabuz na cabeça, mas acabaram por cair para o chão, onde o maometano lhe cravou três vezes uma gomia, deixando-a metida nas costas. Mesmo assim Luís Fernandes acabou por matá-lo. Fernão Vieira seguiu um turco que se meteu no mar com um arcabuz. Deu-lhe una lançada. Depois de matarem outros mouros, voltaram os portugueses de barco para a praça.

24 de Março
Chegou à praça o capitão Álvaro de Carvalho com uma armada em que vinham muitos fidalgos e criados do rei e cavaleiros de Mazagão. Os mouros atiravam entretanto para a praça com um trabuco chamado «Maimona» agos pelouros tinham cerca de quarenta centímetros de diâmetro, dos quais caíram alguns na cisterna, sem causar dano, outros mataram dois homens e outros derribaram parte do baluarte. À chegada de Álvaro de Carvalho, os mouros dispararam mais de seis mil arcabuzes.
Fins de Março
Numa noite o soldado Jerónimo Belo desceu pelo muro, foi até à cava e aí, a nado, com uma faca na boca, cortou as amarras de alguns barcos de serviço da vila que os mouros tinham atado ao seu bastião, trazendo-os até à Porta do Mar.
Começou então a haver disputas entre os fidalgos sobre os lugares que cada um pretendia no muro e nos baluartes, pelo que o capitão teve de reparti-los. A primeira estância, à esquerda do cavaleiro do Baluarte do Santo Espírito, ficou comandada por D. Gonçalo de Castelo Branco, com oitenta homens. Nela estava uma grande peça de artilharia, a «Águia». O condestável dessa estância fez um tiro de artilharia que quebrou uma bombarda aos mouros. Os mouros atacavam sobretudo aquela bombarda, tendo-lhe queimado várias vezes a manta, até que D. Gonçalo Coutinho deixou de repará-la, deixando a estância, onde alguns homens tinham sido feridos. Foi ele depois entregue a Nuno Fernandes de Magalhães e a seu irmão Afonso de Torres. A segunda estância do mesmo baluarte foi dada a Vasco Fernandes Homem. A terceira, já no muro, junto do baluarte, coube a D. António Lobo. A quarta foi para Luís de Castro. A seguir estava a de Pedro Paulo com quarenta mareantes de Tavira. No baluarte da Porta da Vila estavam António de Carvalho, com muita gente, e o capitão António Coelho com gente do rei. O Baluarte de S. Pedro tinha por capitão Domingos Álvares Leite com uma companhia de soldados velhos. Também aí estava Luís de Faria com a sua gente. No muro seguinte estava muita outra gente, de Domingos Álvares Leite, João de Teive e do capitão João de Mendonça. Este último comandava o Baluarte de S. Sebastião, com uma companhia de soldados muito destros e experimentados de Mazagão. Aí também se achava Lourenço de Cáceres com uma companhia de oitenta soldados mandados por Jorge da Silva. Sobre a Porta do Mar estava Jorge Mendes de Faria, que a guardava com sessenta homens. No Baluarte de Sant'Iago estavam o capitão João Fernandes de Grada, com uma companhia de soldados valentes e práticos e o fidalgo Francisco da Cunha com a sua gente. No muro desde o Baluarte de Sant'Iago ao do Santo Espírito localizavam-se as estâncias de Afonso Zuzarte e gente do rei, Fernão Cabral com cem homens, que levou à sua custa, João Rodrigues de Torres, também com cem homens à sua custa, da gente do Algarve, capitaneada por Francisco Portocarreiro, e de Pedro de Gois, que tinha uma boa peça de artilharia chamada «Selvagem», por cada tiro eficaz da qual o mesmo Pedro de Gois pagava mil réis ao seu bombardeiro. Todos trabalharam fortificando as estâncias, algumas protegidas por pipas de terra. Foram derrubadas casas para utilizar a sua pedra e feitas minas. Os mouros fizeram uma grande trincheira, desde o revelim pequeno, junto da cava até o canto do Baluarte do Santo Espírito, tão forte que as bombardas não o rompiam. A cava estava entulhada, de tal maneira que um cavalo poderia subir ao muro.

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#198459 | S.João de Rei | 29 mai 2008 13:03 | Em resposta a: #198335

10 de Abril
Os mouros fizeram uma grande descarga de artilharia, com o que derribaram grande parte do Baluarte do Santo Espírito e uma guarita. Puseram depois, à noite, fogo à Porta da Vila, o que provocou uma grande peleja de arcabuzadas e bombardadas, que durou grande parte da noite.

11 de Abril
Os mouros dispararam nove tiros de trabuco, que apenas derribaram uma casa.

13 de Abril
Disparam os mouros numerosos tiros de trabuco. Um deles caiu na pousada de Luís de Faria, sem ferir ninguém, mas outro caiu na do fidalgo Nuno Pereira, a quem feriu mortalmente.

14 de Abril
Continuaram a cair na fortaleza muitos tiros de trabuco, um dos quais caiu na sacristia da igreja, outro na pousada de Jorge Mendes de Faria. Então Isidro de Almeida levantou quatro meios-camelos, à maneira de trabucos, e com eles deu tais tiros no arraial dos mouros que estes cessaram por muitos dias as trabucadas. Neste dia chegou à praça o capitão Gaspar de Magalhães com uma companhia de duzentos e cinquenta soldados do rei e com vinte e quatro barris de pólvora. Foi ele para o cavaleiro, que repartiu com Fernão de Castro. Receberam então muitas bombardadas, que feriram alguns homens. O próprio Gaspar de Magalhães ficou magoado com duas pedras que saltaram da muralha. Tempo depois foi à estância de D. António Lobo e prometeu um prémio ao artilheiro se destruísse uma bombarda dos mouros que estava a ser muito danosa, o que o artilheiro veio a conseguir. Nestes dias Pedro Paulo, João Riscado e outros cavaleiros lançaram setas de fogo, que fizeram arder a madeira que os mouros tinham para repararem as trincheiras, e Luís de Faria atirou uma bombardada que matou quatro deles que tentavam apagar o fogo. Os mouros estavam bem posicionados e atiravam com grande precisão e rapidez a qualquer fresta em que os portugueses espreitassem. O clérigo Baltasar de Mendonça quis ver o campo; espreitou pelo muro, mas logo lhe deram uma arcabuzada pela testa. Os mouros começaram então a fazer uma mina, direita ao Baluarte do Santo Espírito. Isidro de Almeida pôs por cima deste umas vasilhas com ovos para saber de que lado estavam a minar, o que apurou pela vibração dos ovos. Ele, João (ou Francisco) da Silva e o mestre-de-obras António Cordeiro puseram-se imediatamente a contraminar. A contramina chegou junto da mina quando esta já estava mais de dois metros dentro do baluarte, mas saiu cerca de um metro acima. O cavaleiro João Riscado e Pedro Lourenço de Melo trabalharam em endireitá-la. Foram escolhidos vinte para romper a mina. Diogo de Vasconcelos meteu urna alavanca e julgou tê-la aberto, disparando sem êxito pelo buraco. Então João Riscado ordenou a um cabouqueiro que se abrisse, o que este fez dando um grande golpe com uma alavanca. Pedro Lourenço de Melo meteu o arcabuz pelo buraco e disparou, ouvindo-se grandes gritos dos mouros. Estes meteram lanças pelo buraco mas foram rechaçados por sucessivos tiros de arcabuz de Simão de Gois, João Riscado e Pedro Lourenço de Melo. Os mouros puseram então fogo a lenha seca na boca da mina, para fazerem fumo. No entanto os portugueses resistiram. Veio depois um turco e espreitou pelo buraco; levou logo uma arcabuzada de João Riscado. Daí em diante passaram os portugueses a revezar-se dentro da mina, de dia e de noite, com água até os joelhos. Viam-se por vezes soldados velhos de Mazagão saírem com feridas na cara e tremendo de frio. Além dos já indicados, estiveram na mina, pelo menos, Gaspar da Cunha, Gaspar de Mendonça, João Pires de Gavy, Duarte Luís, Domingos Gonçalves, Francisco de Carvalho, João de Sousa, Diogo de Vasconcelos, Pedro de Sousa, Nuno Pereira, Vicente Álvares, Pedro Rodrigues, Fernão Vieira, Belchior Garcia, Bartolomeu Rodrigues, Miguel Figueiredo, Cosme Rodrigues, João Picoto e Álvaro Ribeiro.

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#198611 | S.João de Rei | 30 mai 2008 13:16 | Em resposta a: #198459

16 de Abril
Mandados pela rainha, chegaram a Mazagão os dois irmãos Vasco e Cristóvão da Cunha, com poderes semelhantes aos do capitão, que não acatou muito bem a ordem. Com eles chegaram também os fidalgos António Moniz e Pedro Vaz de Siqueira e um engenheiro italiano.

20 de Abril
Ao meio-dia um mouro subiu ao baluarte e, depois de ter estado uns momentos a olhar para a praça, perante a surpresa dos portugueses, voltou para a sua estância, que era debaixo do muro. Pouco depois gerou-se uma briga entre mancebos da vila e outros que tinham ido socorrê-la, a qual foi apaziguada por Vasco Fernandes Homem e Gomes Freire.

22 de Abril
Tendo vindo o aviso de um ataque dos mouros no dia seguinte, foi feito na estância de Vasco Fernandes Homem um través de pipas cheias de terra. Os mouros tinham levantado um bastião perto do Baluarte do Santo Espírito com cento e cinquenta e seis palmos de altura e dois mil duzentos e quarenta palmos de circuito, e aos lados mais dois bastiões, mais pequenos. Neles estava grande soma de arcabuzeiros.

24 de Abril
Ao romper da alva, os portugueses, subidos ao muro, puseram-se em ordem para a peleja. Os que estavam ao pé do cavaleiro, na estância de Nuno Fernandes de Magalhães e de Vasco Fernandes Homem, ficaram ajoelhados com as lanças baixas, pegados ao parapeito. Esperaram até o meio-dia. Os mouros começaram então a atirar com a sua artilharia, derrubando parede do cavaleiro e do baluarte, matando e ferindo homens. Na maré cheia em que o capitão-general julgava não haver perigo de ataque, avançaram os mouros com quatro bandeiras e um guião branco, que puseram numa parte do cavaleiro. Estava então junta quase toda a cavalaria moura, preparada para entrar. Ao mesmo tempo saiu uma manga de arcabuzeiros da parte do norte com outras cinco bandeiras e cravaram uma destas na praia, mas o alferes e mais sete turcos foram mortos com tiros de cima do muro. Arrimaram-se aí, porém, os maometanos à couraça junto do Baluarte de S. Sebastião e, apesar da maré cheia, mantiveram-se até à noite, retirando depois. Entretanto, os que haviam subido ao cavaleiro do Baluarte do Santo Espírito, faziam enorme alarido e lançavam fogo para dentro da praça, o qual pegou a umas bombas de fogo. Tocou a rebate e gerou-se enorme confusão e muita fuzilaria. No cavaleiro estavam três capitães, Rui de Sousa de Carvalho, Fernão de Castro e Gaspar de Magalhães, e muitos outros fidalgos, cavaleiros, criados do rei e gente miúda. Ali se achavam Bartolomeu Guerreiro e seu filho Cristóvão Guerreiro, João de Melo, Ambrósio de Aguiar, Francisco da Cunha, Pedro Lourenço de Melo, João Riscado e Bernardim Ribeiro. Estavam tão apertados que toda a pedra, dardo, lança ou pelouro que caía feria ou matava alguém. Muitos caíram pela escada de pau. Rui de Sousa de Carvalho, muito queimado e desfigurado, nos olhos, rosto, mãos e pernas, incitava os que ali estavam, dizendo: «á Snres soldados não digais que vosso Capitão não morre pelejando com voses». Gaspar de Magalhães recebeu uma grande pedrada na cabeça, mas apesar do sangue que lhe corria continuou a pelejar. Deu-lhe também na cara uma panela de pólvora, ficando queimado nas mãos e no rosto e cheio de cicatrizes. Nessa altura rebentou um barril de pólvora por baixo do cavaleiro, queimando-lhe as pernas, pelo que caiu em baixo, como morto. Esta explosão queimou também Afonso de Torres, na cara, na mão e perna direitas, Lourenço de Sá, que morreu, e Bernardim Ribeiro, na cara e nas pernas. Momentos antes morrera o mancebo Marcos Vaz de Sousa, com um pelouro na cabeça. Também no baluarte pelejou Jorge Nunes de Leão, arremessando dardos e lanças aos mouros, até que foi ferido na ilharga direita duma arcabuzada e na cabeça duma zagunchada, de que veio a morrer. No cavaleiro se achavam igualmente D. Diogo Manuel e seu cunhado Pedro Vaz da Veiga. Nisto subiu ao cavaleiro um negro muito cabeludo, que matou três fidalgos com três tiros de arcabuz, Pedro Lourenço de Melo, quando este queria tomar uma das várias bandeiras que os mouros tinham posto no baluarte, Francisco de Carvalho e Jorge de Macedo, que pelejavam com lanças. O negro e outro que o cobria com uma adarga foram derribados pelo capitão Francisco Portocarreiro. Álvaro Dias Rebelo, quando pelejava com lanças de fogo, ficou queimado na cara, nas mãos e numa perna. Igualmente queimados ficaram Simão Viegas, o alferes da bandeira real Gaspar Valente, Afonso Barreto, Bartolomeu Guerreiro, Domingos de Almeida, Cristóvão Guerreiro, Gaspar de Madeiros, a quem deram também uma arcabuzada na cabeça, Domingos Gonçalves, que recebeu uma arcabuzada pêlos queixos, João Gonçalves de Alcobaça, Francisco da Gama, ferido pelo pelouro duma bombarda, Baltasar de Pomares e Bartolomeu Cavalo. Deram duas arcabuzadas a Domingos Vieira, uma no peito e outra na cabeça, de que se curou. A António Ribeiro quebraram um olho quando pelejava com lança e a António Mourão feriram de zagunchadas. Foram mortos alguns soldados e os cavaleiros da terra João Vaz, Baltasar Afonso, Pedro Fernandes de Pontével, Gaspar da Costa, Pedro Rodrigues, Gaspar Fernandes e Gaspar Rodrigues. Quando rebentou o fogo, Fernão de Castro recomendou ordem aos que ali se achavam e, vendo um mouro sobre o parapeito, deu-lhe uma lançada na barriga, fazendo-o cair na cava. Continuou a pelejar até que o queimaram, pelo que foi curar-se. A certa altura Isidro de Almeida e Francisco da Silva internaram-se pela mina, que passava por baixo da estrada por onde os mouros subiam ao cavaleiro, meteram lá dez barris de pólvora, dos quais arderam sete, provocando numerosas baixas nos maometanos. Um destes, quando ia a fugir com a camisa a arder, passou junto de outros que estavam a carregar pólvora, pegando-lhes fogo, com o que ficaram queimados cerca de trezentos, a maior parte deles mortos. No cavaleiro ardia tudo. A ele subiu Ambrósio de Aguiar, que, com uma chuça, impedia os mouros de entrarem. Estes racharam com um alfange a cabeça a um ferreiro de Mazagão. Nuno de Brito defendia o cavaleiro às lançadas, apesar de ter caído várias vezes. Ali pelejavam também Francisco da Cunha, Cristóvão da Cunha, que foi derribado com pedradas, mas persistia em combater à lança, tendo recebido uma zagunchada pela boca, que lhe cortou o bigode, Tristão Vaz da Veiga, a quem deram uma arcabuzada na garganta, seu irmão Gaspar da Veiga, que recebeu uma arcabuzada na barriga, de que também se curou, Lopo de Sequeira, Manuel de Mesquita, seu irmão João Lopes, Vasco Fernandes Coutinho, Jerónimo Pestana, Manuel Rodrigues de Freixo, Miguel de Amil, Pedro Zusarte, Gonçalo Ribeiro, Francisco de Osório, João de Bairros, Gaspar Leite, Miguel Pestana, Duarte Luís, Luís Nicolau, Francisco Nicolau, Álvaro Rebelo, Luís Caiado de Gamboa, Manuel Landim, António Velho, Bartolomeu de Vasconcelos, D. Diogo de Castelo Branco, D. Gonçalo de Castelo Branco, D. Diogo Manuel, Pedro da Fonseca, Sancho de Tovar, Manuel Correia, Francisco Ferreira e D. António Lobo. O capitão-general, que estava junto ao canto do baluarte, mandou Luís de Castro subir também com alguns homens ao cavaleiro e com a sua bandeira. O alferes desta foi derrubado por uma arcabuzada, de que veio a morrer, mas logo Gaspar Gato tomou a bandeira e depois a entregou a um preto português chamado Pedro António, que pelejava rijamente à espada. Nesta altura os mouros deitaram outra onda de fogo, que queimou muitos portugueses, entre eles Gonçalo de Sequeira e Nicolau Rodrigues. Subiram então António Moniz Barreto, Gomes Freire e D. António de Almeida, que, empurrado pêlos da frente, caiu do muro, mas sobreviveu e subiu de novo, sendo alvejado por muitas pedradas e zagunchadas, de que escapou. Enquanto durava o combate, dois frades franciscanos empunhavam um crucifixo e animavam os portugueses. Nas estâncias de Nuno Fernandes de Magalhães e de Vasco Fernandes Homem, os homens estavam preparados, mas os mouros não entraram por elas. Aí estiveram, entre outros, os arcabuzeiros de João de Mendonça, Vasco da Cunha, António Carvalho, Rui Dias de Sotomaior, João de Sousa, João de Teive e Fernão Vieira, que disparava lanças e bombas de fogo. Os mouros, com pedradas e arcabuzadas, mataram aí dois arcabuzeiros. Vasco Fernandes Homem recebeu um pelouro na manga da camisa, mas ficou perfeitamente ileso. Rui Dias de Castro foi gravemente ferido por uma arcabuzada. E também sobre Nuno Fernandes de Magalhães caiu um pelouro, mas não ficou ferido. Nesta confusão, Vicente de Carvalho impediu um soldado de pôr fogo a duas bombardas apontadas para o cavaleiro, o que teria provocado a morte de muitos portugueses que aí estavam. Entretanto, João Riscado espreitou temerariamente, junto da estância de Nuno Fernandes de Magalhães, e, tendo visto vários mouros, deitou-lhes uma panela de pólvora, que os queimou. Recebeu por isso uma arcabuzada na cabeça, uma zagunchada e muitas pedradas, mas aguentou tudo, até que foi forçado a ir curar-se. Em seu lugar subiu Pedro Carvalho, mas logo foi queimado nas mãos e na cara. Pedro de Gois, que estava na sua estância, largou-a e foi para o cavaleiro, onde foi derrubado por uma pedra na face. Levantou-se, mas outra pedrada na cabeça derrubou-o, até que o ergueram. Sebastião de Brito, que tinha ao cuidado a Porta do Mar, quando soube o que estava a passar-se no cavaleiro, correu para este e aí se encarregou de dar as alcanzias de pólvora a Nuno da Cunha e Fernão Rodrigues, que as deitavam aos mouros. Nuno da Cunha foi então muito ferido e queimado. Pedro de Gois chamou mais arcabuzeiros, colocou-os em locais apropriados e estes começaram a derribar os alferes mouros. Só assim estes desistiram e começaram a descer. Tendo voltado às suas trincheiras, os maometanos dispararam muita artilharia, mas só mataram um homem, cuja cabeça foi decepada por um pelouro. Assim terminou aquele combate, ao cair do dia. com vitória penosa dos portugueses, alguns dos quais a festejaram à noite.

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#198764 | S.João de Rei | 31 mai 2008 22:39 | Em resposta a: #198611

26 de Abril
Os mouros estavam a picar o muro por baixo da estância de Nuno Fernandes Magalhães, pelo que os comandantes portugueses puseram a hipótese, que não levaram por diante, de fazerem uma saída. Na noite anterior Isidro de Almeida saíra pela mina para vê-los e logo se recolheu. À noite saiu Cleofas Gil pela mina, cautelosamente, e voltou pela estrada dos mouros, que vinha ter ao baluarte.

27 de Abril
O cavaleiro Gaspar de Medeiros ofereceu-se para sair pela mina, o que fez por duas vezes, observando as obras que os mouros estavam a fazer. No entretanto, faziam-se na fortaleza grandes obras de reparo. Quando Cristóvão da Cunha e o capitão António Coelho subiram a umas pedras, sobre a Porta da Vila, caiu sobre eles uma bombarda que matou este e feriu aquele gravemente.

28 de Abril
Julgando-se são, Cristóvão da Cunha levantou-se e recebeu uma arcabuzada na cabeça, pelo que recaiu ferido mais alguns dias. Pedro Paulo, comandando um batel, saiu com Domingos Gonçalves, Pedro Fernandes, Gaspar Pires, António Ferreira, Manuel Real, João Domingues, Domingos Fernandes, Belchior Gonçalves, Francisco Martins e, ao que parece, Alexandre Correia [Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, vol. m, Ponta Delgada, 1971, p. 15 (agradeço ao Dr. António Orneias Mendes ter-me chamado a atenção para este e para outros elementos relativos à participação de gente da Madeira e dos Açores na história de Mazagão)], com vista a tomar um língua arábia. Foram ainda de madrugada até junto de Tite. Meteram o batel numa calheta e emboscaram-se junto às tendas do alcaide de Safim. Quando amanheceu, surgiu ao pé do mar um cavaleiro mouro, Almançor, para se lavar. Saltaram-lhe em cima silenciosamente, capturaram-no e levaram-no para a praça. Aí ele revelou que se preparava um segundo assalto. Neste mesmo dia deram os mouros uma grande bateria de bombardas no cavaleiro e no Baluarte do Santo Espírito, com que derrubaram parte da muralha. Aí se achavam Francisco da Cunha, Pedro Zusarte e seu irmão e Lourenço Marques. Foi morto por um pelouro um forçado que estava a carregar sacos de terra. Quando o cavaleiro João Picoto pelejava com alcanzias, deu uma bombardada no reparo, matando um homem e fazendo-o cair como morto. Voltou porém a si e retomou a sua actividade. Na mina de cima estava Miguel Pestana, que ficou parcialmente soterrado, até que o tiraram. O cavaleiro Duarte Luís e Simão Pires achavam-se também lá, desarmados. Entretanto, os portugueses faziam um través de madeira sobre o baluarte, a fim de igualarem a obra dos mouros, que estava a ficar mais alta.

30 de Abril
Os portugueses puseram-se todos em ordem, esperando o segundo assalto mouro, especialmente no cavaleiro, aonde foram escolhidos os homens que sabiam, sobretudo arcabuzeiros, cuja falta fora sentida no primeiro assalto. Pelas onze horas deu sinal um trombeta que estava no Baluarte de S. Pedro. Aí tinha a guarda nesse dia o fidalgo Luís de Faria, com Sebastião de Brito, Manuel Rodrigues de Freixo, Gaspar Leite, Artur de Brito e mais treze.
Pareceu-lhes que, por ser tarde e a maré estar cheia, os mouros já não atacariam nesse dia. Estavam para ir jantar, mas Manuel Rodrigues de Freixo, vendo a cavalaria moura reunida a escutar um sermão, achou prudente esperar. Então os mouros soltaram brados, dispararam um tiro da «Maimona», que rompeu um buraco no parapeito de cerca de dois metros e matou Sebastião da Silveira e três soldados, e subiram com três bandeiras, deitando para o cavaleiro mais fogo que no primeiro assalto, em panelas e outros objectos cheios de pólvora. Quando um mouro vinha a subir pela estrada com um saco de pólvora para deitar no cavaleiro, o cabo Duarte Barreto viu-o, disparou-lhe uma bombarda, pegando-lhe fogo, ao mouro e a vários outros que estavam perto dele. Devido ao fogo lançado no cavaleiro retirou-se deste a maior parte da gente. Tocou a repique, apressadamente, por tambores e trombetas. O vento, que estivera sul, fazendo correr o risco de que o fogo alastrasse pela fortaleza, virou para norte, fazendo reverter para os mouros os maus efeitos, perturbando-os e impedindo-os de tirarem partido da brecha feita no cavaleiro. Voltaram a subir a este Diogo de Vasconcelos, Domingos Pereira, Manuel Rodrigues de Freixo, Gaspar Leite, João de Sousa, Diogo Moniz, Simão Álvares da Cunha, que ia muito queimado, o capitão João de Mendonça, um sargento deste que foi morto com uma pedrada na cabeça, Fernão Ortiz, Francisco Ferreira, Francisco de Bairros, Vasco Fernandes Homem, António Soares, Francisco de Moura, António Botelho, Rui Dias de Sotomaior, Jerónimo Botelho, que foi ferido e queimado, Luís Pestana, que ficou malferido, Martim Fernandes, Jorge Preto, que foi queimado e ferido por zagunchadas, Sebastião de Brito, que distribuía alcanzias e ficou queimado na cara e nas mãos, o adail Francisco de Figueiredo, também ferido na cara e nas mãos, que se pôs junto da brecha e aí recebeu uma pedrada que o derrubou, D. Pedro de Meneses, que também foi queimado, Gomes Freire, também queimado, que pelejou junto ao parapeito, Miguel Pestana, Fernão de Reboredo, Ambrósio de Aguiar, Nuno de Brito e outros, que também ficaram queimados. O fidalgo João de Melo saiu ferido e queimado e foi recolhido numa tenda, mas aí caiu um pelouro de trabuco sobre os pés, do que veio a morrer. Durante o combate, Isidro de Almeida mandou dar fogo à mina, que estava com dezanove barris de pólvora. Rebentou ela, espectacularmente, por muitos lados e provocou muitas mortes e o pânico entre os mouros, fazendo recuar os cavaleiros e desmoralizando os que estavam envolvidos no assalto ao cavaleiro. Esta explosão fez baixar o entulho, pelo que os mouros passaram a ter de recorrer a escadas. Nessa altura Pedro Paulo mandou abrir a Porta do Mar e fez que desembarcasse uma armada de perto de vinte navios, onde vinham quinhentos soldados do rei, o capitão Francisco Henriques com duzentos e cinquenta soldados e fidalgos, e outros de Agostinho Ferraz, que eram o socorro remetido de Lisboa. Bem recebidos pêlos defensores da praça, subiram Francisco Henriques e alguns dos seus homens ao cavaleiro, onde estiveram até o fim da peleja, tendo morrido alguns. O alferes da bandeira arvorou-a logo no baluarte, mas foi derrubada e ele queimado. Hipólito Zusarte pôs-se, mesmo desarmado, no sítio da brecha, onde foi muito queimado, mas não o atingiram. Entretanto, um bombardeiro do través de Pedro de Gois fez óptimos tiros para o sítio onde estavam as bandeiras dos mouros, matando o alferes e derrubando-as. Com isto se desmoralizaram ainda mais os mouros que assaltavam o cavaleiro. Dispararam estes ainda a sua artilharia, mas sem causarem qualquer dano. Enquanto durou o combate, que foi mais duas horas depois da chegada de Francisco Henriques, estiveram também dois frades franciscanos segurando um crucifixo, para animar os combatentes. As mulheres da praça igualmente os animavam e colaboravam, servindo-lhes água e pedras e arremessando mesmo pedras aos mouros. Uma mulher, Paulina Fernandes, com uma chuça, impedia que os portugueses descessem do muro.

No fim do combate e por toda a noite festejaram a vitória homens e mulheres, com danças e cantares e com guitarras.

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Grande Cerco de Mazagão em 1562

#198974 | S.João de Rei | 02 jun 2008 17:37 | Em resposta a: #198764

/ de Maio
Os mouros voltaram a trabalhar, dando a entender que repetiriam o assalto, e os portugueses preparavam-se para novos combates. Isidro de Almeida e Francisco da Silva fizeram outra mina no terreno inimigo.

2 de Maio
Os maometanos iam desenterrando os seus mortos e trazendo muita lenha para cobrir as suas trincheiras. Nos dias seguintes continuaram tal trabalho e dispararam muitas arcabuzadas, com que mataram alguns homens da fortaleza.

7 de Maio
A cavalaria dos mouros andou por todas as trincheiras, a ver se por lá ficava escondido algum elche. Depois pegaram fogo à madeira e, a coberto do fumo, levantaram o cerco, retirando pela estrada de Azamor. Só quando já estavam para lá das trincheiras é que foi descoberta a retirada. Mesmo assim os portugueses dispararam do Baluarte de Sant'Iago uma grande bombarda, que lhes matou e feriu muita gente. O cavaleiro Cleofas Gil subiu à cortina para ver a retirada dos mouros, mas recebeu um tiro de arcabuz no peito, de que morreu.
Em todo o cerco terão morrido mais de vinte e cinco mil mouros e cento e dezassete portugueses, dos quais noventa e oito combatendo. Feridos e queimados portugueses, que sobreviveram, foram duzentos e sessenta. Há notícia de nele terem participado, além dos acima mencionados, Álvaro Botelho, Álvaro Gomes, alcaide-mor da praça, que ficou ferido, Álvaro Ribeiro, Ambrósio de Landim, que foi ferido, André Bogalho, D. António de Abranches, António de Andrade de Vasconcelos, D. António de Azevedo, António da Costa, António da Cunha, D. António de Lima, António de Melo, de Tavira, António Rebelo, António Rodrigues, D. António Rolim, que foi ferido, António Sanches de Gamboa, António de Sintra, António de Siqueira, António de Sousa, António Vaz, que foi ferido, Baltasar de Sá, Bartolomeu Garcia, Bartolomeu Gramacho, Bartolomeu Soeiro, Belchior Botelho, que foi ferido, Belchior de Lemos, Belchior de Sousa, Bento Fernandes Coutinho, que foi ferido, Bernardo Carvalho, Cristóvão de Barros, Cristóvão de Carvalho, Cristóvão Freire de Carvalho, Damião Gonçalves, que foi morto no primeiro assalto, Diogo Cão, Diogo Fernandes Cabral, Diogo de Lemos, D. Diogo de Lima, D. Diogo Lobo, Diogo de Melo, Diogo Peixoto de Sá, que foi ferido, Diogo Pires Freire, que também foi ferido, Dínis (ou Domingos) de Gusmão, Domingos da Costa, que foi ferido, Domingos Pilarte, Duarte Barreto, D. Duarte de Lima, Duarte de Melo, Duarte de Mendonça, Fernão Silva, Francisco Álvares, Francisco Baião, Francisco Carneiro, que foi ferido, D. Francisco da Costa, Francisco de Figueiredo (que não era o adail), Francisco de Mendonça, Francisco Nobre, Francisco de Óbidos, D. Francisco Rolim, que foi ferido, Francisco de Siqueira, Francisco de Soure, que foi ferido, Gaspar Dias de Landim, Gaspar de Sá, Gaspar Teixeira de Mesquita, D. Gastão Coutinho, Gonçalo Luís de Castro, D. Gonçalo de Meneses, Gonçalo Vaz Coutinho, Jácome Leite, que foi ferido, Jerónimo de Brito, Jerónimo (ou João) Lourenço Pessanha, Jerónimo de Melo Pereira, Jerónimo de Quintanilha, Joane Anes. que foi ferido, D. João de Almeida, João Álvares de Caminha, João Carlos. D. João Coutinho, João Inchoa, D. João Lobo, João Luís, João Martins. João Raposo de Torres, João de Saldanha, que foi cativo quando vinha ao Reino, João de Sousa Tavares, que foi ferido, João Taveira, Jorge da Silva. Jorge Tibau, Lançarote de Melo, Lopo Afonso de Torres de Magalhães. Lopo Cabreira, Lopo de Sousa, Lourenço de Sá, Lourenço da Veiga, que foi ferido, Luís Álvares Pereira, Luís de Castilho, D. Luís Coutinho, Luís Gomes, que foi ferido, Luís Mendes de Vasconcelos, Luís Mós, Luís Taveira, Manuel de Brito, Manuel de Melo da Cunha, Manuel de Melo Pereira, Manuel do Tojal, Marcai Nunes, Martim Afonso de Melo, Martim Afonso de Miranda. Martim Afonso de Sousa, Martim Vaz de Sousa, que foi morto no primeiro combate, Miguel Homem Soares, Miguel da Maia, Nuno Álvares, Nuno Fernandes, que foi ferido, Nuno Freire, que também foi ferido, D. Pedro de Almeida, Pedro Álvares de Mancelos, Pedro Anes, Pedro César Quintanilha. que foi ferido, Pedro Cordeiro, que ficou maltratado duma queda, Pedro Leitão de Gamboa, Pedro de Lemos, D. Pedro de Lima, D. Pedro Lobo. Pedro de Melo da Silva, Pedro Moniz da Silva, Pedro de Montarroio, Pedro de Sá, que foi morto, Pedro de Sousa, Pedro de Vasconcelos, Pedro Vaz da Veiga, que foi ferido, Rui Freire, de Beja, que foi ferido, Rui Gonçalves Tibau, Rui de Melo da Cunha, Rui Teles, Sancho de Vasconcelos, Sebastião de Macedo, Sebastião Teles, Simão de Caminha, Simão de Macedo. Simão Sodré, Tomé Rodrigues, Vasco Anes Corte Real, D. Vasco Coutinho, Vasco Gil Pimentel e Vicente de Sousa Há ainda notícia de terem participado no cerco Aires Fernandes, Álvaro Gomes (que não era o alcaide--mor), Amaro Pires, André de Matos, André de Meireles Botelho, que era alferes da companhia de Gaspar de Magalhães, Antão Rodrigues de Fontoura, António de Azevedo, António de Baena, António Fernandes de Azamor, António Martins, cabouqueiro, que trabalhou nas minas e contra-minas, António da Mota, António de Moura, António Pires Riscado, António Privado, António Ribeiro, António Rodrigues, outro António Rodrigues, ainda outro António Rodrigues, António Simões, António Vieira, Aparício Rodrigues, Baltasar Pita, Baltasar Rodrigues, Belchior de Barros, Belchior Bezerra, Belchior de Faria, Belchior Rodrigues, Brás Nogueira, Diogo Camacho, Diogo do Couto, Diogo Gonçalves do Couto de Boim, Diogo Lopes de Baião, Diogo Rodrigues, Diogo Vaz, Diogo Vieira, o capitão Domingos Álvares Leite, Domingos Ferreira, Domingos Rodrigues, Estêvão Cavaleiro, Fernão Bezerra, Fernão da Fonseca, Fernão Gomes de Caminha, que foi ferido, Fernão Palmeiro, Fernão Serrão Lobo, Fernão de Solis, Filipe Dias Barrentos, Francisco Afonso, Francisco de Azevedo Coutinho. O filho do Dr. Sebastião Pais, Francisco Carneiro, de Vila do Conde, Francisco da Costa, Francisco Dias, outro Francisco Dias, Francisco Fernandes, Francisco Fernandes Vieira, Francisco Gonçalves, cabouqueiro, que trabalhou nas minas e contraminas, Francisco de Vargas, Francisco Viegas Raposo, Gaspar Gonçalves, Gaspar de Meireles, Gaspar de Mendonça, Gaspar Mourato, Gaspar Rodrigues de Moura, Gaspar Vaz Freire, Gil de Borba, Gonçalo Viegas, Heitor Dias Homen, Heitor de Meira, Henrique Nunes, Jerónimo de Azevedo Pereira, João Correia, João Fernandes, João Mourato, João da Nóbrega, João Pires, João Rodrigues, outro João Rodrigues, João Rodrigues Lopes, João Rodrigues da Nóbrega, João de Tovar, Jorge Dias, outro Jorge Dias, Jorge Rodrigues, Lourenço Fernandes, Luís Álvares, Luís de Carvalho, Luís Gomes, Luís Mourato, Luís de Oliveira, Manuel Afonso, outro Manuel Afonso, Manuel de Azevedo, Manuel Fernandes, Manuel Ribeiro, Manuel Simões, Marcos Dias, Miguel Aranha, que foi ferido no segundo combate, Miguel Farinha, Nicolau Velho, Nuno Álvares de Araújo, Nuno Carvalho, Pedro de Alarcão, Pedro Borges, Pedro Botelho, Pedro Gonçalves, Pedro Gonçalves Castanho, Pedro Estaco, Pedro Jusarte Coutinho, Pedro Louceiro, Pedro Rebelo Feijó, Pedro Rodrigues, de Braga, Rodrigo Afonso de Sá, Rodrigo Anes Nunes, Rodrigo Anes Soares, que foi ferido, Roque Fernandes, Rui Lopes Cotei, Sebastião Carvalho, Sebastião Dias, Sebastião Fernandes, Sebastião Gonçalves, Sebastião Leão, Simão Correia, Simão de Mira de Azevedo, Tomás de Pavia da Fonseca e Vicente Vaz.

A. Gavy de Mondonça, ob. cit.. «Tratado do cerco de Mazagão e do que nelle pasou», B. N. L., Alcobacense, n.° 308, publicado por Manuela Mendonça, in Clio, vol. 3, 1981, pp. 53 a 66; «Relação dos cerco de Mazagão, etc.», cit.; Amaral, «De Bello Mazagonico», B. P. Évora, , de António de Baena; «Chronica, e Summario do Cerco, e Combates de Mazagam», B. N. L., Livraria da Casa Tarouca. n.° 70, e códice 3663; «Lembrança em que tempo foi cerquada pêlos mouros a vila de Mazagão», publicada in Lês Sources, etc., cit., série «France tomo i, pp. 232 e ss.; «Papel avulço de noticias m.to antigas de rezoluções 4 tomavão os Snr.s Reys de Portugal», B. N. L., Pombalina, n.° 647, fl. 7 v. e ss.; «Annais, de Portugal, e África», B. N. L., Livraria da Casa Tarouca, n.° 57: «Copia das couzas principaes q succederão em Portugal, em tempo de EIRey Dom Sebastiam», B. Ajuda, ms. 49-XI-77; Pedro de Mariz, Diálogos de Varia Historia, Coimbra, 1598, pp. 366 e ss., Manuel de Faria y Sousa.
África Portuguesa, Lisboa, 1681, pp. 205 e ss.; Diego de Torres, ob. cit., pp. 292 e 293; «Cappitulo dos fidalgos, etc.», cit., pp. 181 a 183, e Jacinto de Pina de Loureiro, ob. cit., tomo 1.°, fls. 42 e ss.).
Ver A. Simancas, Secretarias Provinciales, Consejo de Portugal, livro 1456, fl. 56 v., e 1457; fl. 60; Chancelaria de D. Sebastião, Privilégios, livro 3, fls. 37 v., 38, 38 v., 39, 41 v., 45, 53, 56 v., 57 v., 58, 63, 68 v., 83 v., 94, 104, 136 v., 140, 144 v., 146, 148, 150 v., 151, 152, 152 v., 157, 159, 159 v., 160 v., 166 v., 167, 177 v., 181 v., 185 v., 205, 207 v., 215, 219 v., 223 v., 226, 230, 230 v., 231, 231 v., 233 v., 236, 238, 288, 289 v., 293, 296, 300, 300 v., 301 v., 306 v., 314 v., 325, 343, 343 v., 355 v. e 359; livro 4, fls. 4, 11, 29 v., 31,52, 54, 60, 61,79, 96, 96 v., 112 v., 114 v., 119 v., 127 v., 132 v., 159, 172 v., 173, 175, 185, 188 v., 209 v., 217 v., 218, 221 v., 223 v., 277 e 297 v.; livro 5, fls. 21 v., 23 v., 31 v., 52 v., 86, 115 v., 130 v., 139 e 149; livro 6, fls. 11 v., 42 v., 46 v., 174, 183 v., 222 e 247; livro 7, fl. 29; livro 8, fls. 20 v., 26 v., 44, 46 v. e 247 v.; livro 9, fl. 334 v.; livro 13, fl. 19, e cartas à rainha D. Catarina de Pedro Paulo Volpe de 2 e 26 de Abril e de 7 de Maio, de Francisco da Silva de 12 de Abril, de Rui de Sousa de Carvalho de 9 de Junho, de Pedro Cordeiro de 10 de Junho, e de Francisco da Cunha, todas de 1562, Corpo Cronológico, parte l.a, maço 100, doe. 106, maço 105, does. 112, 114, 115, 118, 122, 123 e 124, e parte 3.a, maço 18, does. 70 e 71).

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