O cemitério inglês de Lisboa e a Rainha

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O cemitério inglês de Lisboa e a Rainha

#118761 | Monigo | 17 mai 2006 18:19

Isabel II condecora a la encargada del cementerio británico de Lisboa
LISBOA (AFP) - La encargada del cementerio británico de Lisboa, Adelina Pires, ha sido condecorada por la reina de Inglaterra a sus 97 años de edad, tras haber consagrado 70 años de su vida a vigilar por el reposo de los familiares de Isabel II enterrados en la capital portuguesa.

La encargada ha sido hecha miembro de la Orden del Imperio británico por Isabel II "en reconocimiento por los servicios dados a la comunidad británica de Lisboa", entre la que ella es "muy estimada", indicó un comunicado de la embajada del Reino Unido.

Según la embajada, Adelina Pires comenzó a ocuparse del cementerio, donde vive, tras su matrimonio en 1937 con el sacristán de la iglesia anglicana de Sao Jorge. Además se encargó de la iglesia y ha sido empleada de diversos pastores.

Tras la muerte de su esposo, siguió trabajando en el cementerio y en la iglesia "sin percibir un salario", según el comunicado.

"Ella es apreciada por los conocimientos que ha acumulado a lo largo de su vida en el cementerio, sobre la presencia de familias británicas en Portugal y sobre las personalidades fallecidas en Portugal que están allí enterradas", añadió la nota.

El escritor Henry Fielding (1707-1754), autor de la novela 'Tom Jones', figura entre las personalidades enterradas en este cementerio donde un monumento en su memoria se erigió en 1830.

Yahoo

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RE: O cemitério inglês de Lisboa e a Rainha

#118762 | fertelde | 17 mai 2006 18:41 | Em resposta a: #118761

Estimado Monigo: Sempre è agradecido constatar que o conhecimento da história de Portugal, interessa aqueles que sâo lingua da Patria vizinha, mas a minha pergunta è: Se se interesa tanto pela história de Portugal, porque nào faz um esforço, e começa a falar também a lingua da página para a qual escreve?'
Cumprimentos,
Fernando de Telde

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RE: O cemitério inglês de Lisboa e a Rainha

#118766 | Monigo | 17 mai 2006 19:07 | Em resposta a: #118762

Prezado Sr. Fernando de Telde,

eu falo português! Hehehe, sou brasileiro.
Eu só copiei e colei o artigo de "Yahoo" e esqueci de assinar. No que diz respeito à língua espanhola neste fórum desde há muitos anos que venho postando artigos publicados em espanhol e nunca houve nenhuma reclamação da administração.
Cumprimentos,

Alberto Penna Rodrigues

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RE: O cemitério inglês de Lisboa e a Rainha

#118811 | fertelde | 18 mai 2006 11:21 | Em resposta a: #118766

Caro Alberto: Nao tenho nada contra os idiomas e até poderia tentar escrever algo em umbundo, mas nâo creio que isso fosse interessante. Falo e escrevo perfeitamente o espanhol, porque vivo ha mais de 24 anos por este País, mas nâo creio interessante vir para um forum em português escrever em espanhol...
Se algum contertulio solicita algo em espanhol ou ingles ou em francês, porque nào sabe, ou porque perdeu o contacto com a lingua portuguesa, aqui neste forum, sempre tem tido a resposta às suas duvidas, no idioma em que se expressa o contertulio...
Mas prezado Alberto, transcrever artigos em idiomas que nâo sào as do forum, nâo sei se será o mais etico...
Para quê presumir de linguas, se já temos a nossa propria??
Melhores Cumprimentos,
Fernando de Telde.-

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RE: O cemitério inglês de Lisboa e a Rainha

#118871 | abribas | 19 mai 2006 10:49 | Em resposta a: #118811

Caro Fernando de Telde,
Vai-me desculpar mas, não me parece de todo incorrecto a transcrição de uma noticia sobre portugueses, encontrada numa fonte estrangeira, e que poderia interessar a alguém conhecer. Penso ter sido essa a intenção do confrade Alberto, e é até procedimento normal aqui no Fórum.

Sem querer fazer polémica,
com os meus melhores cumprimentos,
António B Ribas

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RE: O cemitério inglês de Lisboa e a Rainha

#118877 | fertelde | 19 mai 2006 11:44 | Em resposta a: #118871

Estimado António B Ribas:
Já vi varias transcriçôes em outras linguas aqui no forum e, posso dizer-lhe que infelizmente algumas sâo feitas, porque o autor do tópico, perdeu o contacto com a sua lingua mâe, o Português...
Quando me atrevi a entrar neste tópico e, espero continuar a intervir em outros da mesma natureza, sempre o farei com o maximo respeito pela opçâo e liberdade dos demais, mas sempre estarei levantando a mâo, para lembrar que há uma lingua comum, que merece todo o nosso carinho e que há que mimar e apoiar. Que tristeza me dá ver que os filhos dos emigrantes nâo falam ou nâo entendem a lingua dos seus progenitores. Que pena me dá quando me encontro com algum Português, e que a tendencia seja a de nos expressarmos ou em Françês, ou em Espanhol...
Como emigrante, creia- me que este assunto nos preocupa bastante. O Instituto Camôes, parece que nâo está a cumprir com o seu fim e, infelizmente isso está à vista.-
Cumprimentos,
Fernando de Telde

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RE: O cemitério inglês de Lisboa e a Rainha

#118985 | Luis K. W. | 20 mai 2006 23:55 | Em resposta a: #118761

Conheci esta Dona Adelina no ano passado, quando fui ao cemiterio inglês tirar umas fotos da pedra tumular de um antepassado de um britânico (ou australiano) que mas pediu.

Imaginem uma velhinha muito velhinha, semi-analfabeta, um bocadinho teimosa, resingona e desconfiada. Mas ficou visivelmente satisfeita quando EU descobri a pedra tumular que eu procurara durante quase uma hora (tempo suficiente para ouvir a história da vida dela)

Na altura, pelo inusitado da situação (um cemitério deserto, com uma velhinha guardiã que práticamente sempre ali viveu) aproveitei para lhe tirar uma foto.

Abraços
Luis K W
Lisboa-Portugal

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RE: O cemitério inglês de Lisboa e a Rainha

#119035 | josemariaferreira | 21 mai 2006 21:06 | Em resposta a: #118985

Caro Luís K W

Este tema do cemitério vem mesmo a calhar sobre o assunto que estamos abordando noutro tópico!
Este cemitério é o mais velho de Portugal, salvo erro. É conhecido pelo cemitério dos Ingleses ou dos Ciprestes, esta última designação deveu-se à Inquisição que mandou plantar um "muro" de ciprestes em volta de todo o cemitério, com a finalidade dos cristãos não verem as sepulturas dos protestantes.
Aqui neste exemplo do cemitério dos Ingleses, vemos até que ponto a Inquisição controlava a mente das pessoas, desviando do seu olhar certos assuntos que não queria que se soubesse. Na minha terra passou-se o mesmo, com a morte de D. João II, e a subida ao poder de D. Manuel, há uma tentativa, de desviaram a batalha de Ourique para Castro Verde, nem que para isso haja necessidade de construir Ermidas e Basílicas Reais, mesmo que os seus nomes não rimem e os assuntos comemorativos estejam colocados artificialmente como é no caso de na Basílica aparecer nas suas pinturas aparecer um guerreiro que supostamente seria D. Afonso Henriques decipando várias cabeças de infiéis. Tudo isto para ligar artificialmente ao lugar de S. Pedro das Cabeças.
Só que as verdadeiras Cabeças de São Pedro, por onde D. Afonso Henriques travou a Batalha, não são físicas mas espirituais!!!
É daquelas a que se referiu Camões, nos Lusíadas.

Eis aqui, quase cume da Cabeça
de Europa toda, o Reino Lusitano
Onde a terra acaba e o mar começa

Cumprimentos

Zé Maria

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RE: O cemitério inglês de Lisboa e a Rainha

#119051 | Luis K. W. | 22 mai 2006 00:12 | Em resposta a: #119035

Caro Zé Maria,

Não faço ideia se o cemiterio dos Ingleses de Lisboa é assim tão antigo. Reparei que havia por lá túmulos anteriores ao terramoto. Mas isso também pode ter a ver com o facto de, antigamente, as pessoas (católicas) serem enterradas junto às igrejas e os protestantes tinham de ir para outro sítio.
Por isso mesmo, há cemitérios ingleses - todos bem antigos - noutras cidades do País (Porto, Santarém?, etc.).
Quanto aos Ciprestes... quase todos os cemitérios em Portugal têm Ciprestes!

Gostei dessa ideia de Afonso Henriques a decapitar a Europa. Espere aí!! Ele fez o quê?!?? :-)

Cumptos
Luís K W
Lisboa-Portugal

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RE: O cemitério inglês de Lisboa e a Rainha

#119062 | josemariaferreira | 22 mai 2006 09:58 | Em resposta a: #119051

Caro Luís K W

Não era o D. Afonso Henriques que estava a decepar a Europa :-). Na Idade Média Portugal é que esteve quase a ser cabeça de Europa, mas faltou-lhe o "quase".
Camões sabia o que estava a dizer com este "quase".

Cumprimentos

Zé Maria

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RE: O cemitério inglês de Lisboa e a Rainha

#119110 | kee | 22 mai 2006 20:49 | Em resposta a: #118985

Caro Luís K. W.:

Será possível indicar-me em que zona da cidade de Lisboa se situa o cemitério Inglês?
Pretendo saber se um meu antepassado de origem Britânica foi enterrado nesse cemitério.
Será que existe um registo dos enterramentos efectuados?
Antecipadamente grato pela ajuda aproveito para apresentar os meus cumprimentos.
J. Jorge Sá-Chaves

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RE: O cemitério inglês de Lisboa e a Rainha

#119114 | jssilv01 | 22 mai 2006 21:16 | Em resposta a: #119110

Caro confrade
O Cemitério Inglês situa-se na R. de São Jorge n. 6, 1250-235 Lisboa, por tras do Jardim da Estrela. O telefone para eventual contacto é o 213 906 248.
Boas pesquisas.
Um abraço
Jorge Santos Silva

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RE: O cemitério inglês de Lisboa e a Rainha

#119225 | aeiou2 | 24 mai 2006 15:11 | Em resposta a: #119110

Se pesquisar em familysearch.org e escrever o nome do seu antepassado e procurar em Portugal, talvez encontre alguma coisa se o nome estiver bem escrito.

Há registos dos jazigos, sua localização, e seus ocupantes e um livrinho editado pela St George's Church, onde se encontra toda a história do British Cemetery
e respectivos Capelães.
Cumprimentos

Maria

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RE: O cemitério inglês de Lisboa e a Rainha

#119232 | kee | 24 mai 2006 17:04 | Em resposta a: #119225

Muito agradecido pelos esclarecimentos.
Cumprimentos
J. J. Sá-Chaves

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Artigo do "Correio da Manhã"

#119591 | Monigo | 29 mai 2006 20:46 | Em resposta a: #118761

Há uma foto de D. Adelina.

Adelina Pires vive no Cemitério Britânico. Há sete décadas que cuida daquele pedaço de Inglaterra em Lisboa. Aos 96 anos, pelo cuidado com que cumpriu a missão, recebeu a Ordem do Império Britânico.






Isabel II nasceu em Mayfar, Londres, em 1926. Adelina tinha 15 anos. Décadas depois, está sentada numa cadeira de madeira da sua sala. Ao fundo, na parede branca, o retrato desbotado da rainha de Inglaterra no dia da coroação. Do lado de fora da casa erguem-se árvores centenárias e centenas de campas em pedra, túmulos mais antigos que ela.

Adelina conhece os caminhos entre as campas, as suas histórias, ainda que não saiba ler epitáfios por ser analfabeta. Anda, ligeira, presa pelo tempo entre os muros do Cemitério Britânico, em Lisboa, onde vive há 70 anos.

Adelina está sozinha entre a paisagem gótica desde que o seu marido, Pedro Pires, zelador, jardineiro e fabricante de caixões, morreu em 1994. Mas a solidão é falsa, na paisagem gótica pela qual sempre zelou sente-se em família. Cuidou e lavou naquele espaço inglês em Lisboa – o mais antigo cemitério em Portugal – muito mais tempo do que muitos dos que estão lá enterrados viveram. E, por isso, aos 96 anos, a menina de Levides, freguesia de Câmara de Vouzela (Viseu) recebeu a Ordem do Império Britânico.

“O que é que há a dizer?!” repete mais uma vez a bengala verbal metida sempre com descuido pelo meio da conversa. Tanto tempo de vida não lhe trouxe certezas, trouxe-lhe como diz “alma pura.”

St. George’s Anglican Church and British Cemetery lê-se na placa do portão que dá entrada para os domínios de Adelina Pires, tão perto da Basílica da Estrela. Lá dentro, no outro lado do muro, tem-se de pé à sombra de uma árvore antiga. “Chamavam-me morta viva por ser anémica. E veja-se que até hoje vivo entre os mortos e falo com eles. Falo com eles todos os dias.”

E entre esses com quem fala estão alguns dos seus: uma filha, o marido, Pedro Pires, o casal de tios (Maria da Conceição e Alfredo que antes dela guardavam o cemitério) e os dois filhos deles.

MEMÓRIAS DE FAMÍLIA

Entre a estatuária fúnebre alinham uma dezena de campas de uma simplicidade franciscana. Mais do que os nomes britânicos sobressaem os postos dos homens ali sepultados entre 1943 e 1944: comander, flying officer, sergeant, pilot. É a II Guerra Mundial em Lisboa. “Portugal era um país neutral mas curiosamente houve pilotos britânicos abatidos sob os céus do país...”, diz Joanne Croft de Moura a meio-caminho da Igreja Anglicana. É uma das “meninas de Adelina.” Quando veio para a capital, a guardiã do Cemitério Britânico trabalhou em casa de sua tia.

Joanne, a menina, tem 81 anos. Na quinta-feira lá estava na residência do embaixador do Reino Unido em Lisboa, na cerimónia de entrega da Ordem do Império Britânico a Adelina. Joanne e os outros meninos e meninas de origem britânica que na juventude andaram de uma maneira ou doutra na bainha da saia portuguesa. Têm todos mais do que a idade do início da reforma, como Ian Crocker.

Aos 69 anos, circula entusiasmado nos jardins da residência do embaixador de câmara de filmar na mão. Veio para Portugal em meados dos anos 50 e ficou a trabalhar na empresa de radiocomunicações da família, a Crocker Delaforce.

O cemitério britânico e a família portuguesa fazem parte da sua memória mais antiga. Ian lembra-se de ir à campa da avó com a mãe, de ir mais tarde ele próprio à daquela que primeiro acompanhara. Lembra-se de ser miúdo e de jogar à bola com os miúdos de Adelina; o esférico feito de uma meia cheia de trapos. “Descobri recentemente uma fotografia onde estou eu e os dois filhos da Adelina e ofereci-lha.”

VEIO PEQUENINA PARA LISBOA

John Buck quer começar o discurso que diz que a rainha Isabel II o encarregou de entregar a insígnia da Ordem do Império Britânico pelos seus serviços. Pequenina, sentada na cadeira da sala daquele embaixador, Adelina rompe o protoloco, tagarela, olha feliz para as pessoas que vieram por causa dela.

Tinha a República um mês e um dia quando nasceu numa família pobre do distrito de Viseu. “Quando vim para Lisboa era já uma calmeirona pequenina que sabia fazer tudo, até esfregar.”

E esfregava, em vez da escola, ao tanque de uma pensão em Vouzela, propriedade dos padrinhos da irmã.

Um dia a sorte chegou-lhe de Souto de Lafões, em Oliveira de Frades, na forma de um casal que vinha viver para Lisboa e precisava de uma menina para ajudar a recém-casada. “E vim. Chegada à Sarnada, no vale do Vouga, estava uma senhora a vender doces que era de Vouzela. Ela disse-me que se eu ia para Lisboa, arrepender-me-ia.”

Ainda hoje lhe morde o coração o dito de quem já não mora neste mundo. À vizinha de Vouzela, Adelina respondeu abespinhada com a desfeita e logo no dia em que se preparava para andar pela primeira vez de comboio: “Nem que eu ande lá aos papéis, volto para cá.”

Durante seis anos, viu a capital de esfregão na mão, na casa do jovem casal, até ao dia em que a companhia de diamantes a deixou sem trabalho. A patroa reuniu-se ao marido em Angola. “A minha tia disse-me: “anda cá que te arranjo outra casa.” A conversa entre tia e sobrinha teve lugar no Cemitério Britânico. A tia Maria da Conceição era casada com Alfredo Pires, o zelador da igreja anglicana e do cemitério britânico. Ambos viviam naquele chão de Lisboa.

Entre a estatuária do mais antigo cemitério do País, Adelina repetiu a história da tia – namorou e encontrou marido. Pedro era o sobrinho que o zelador Alfredo tinha a ajudá-lo. “Eu era muito reinadia”, confessa e na cara bronzeada de camponesa em terreno citadino traça-se sorriso agaiatado.

BRINCADEIRAS DE CRIANÇAS

Carol Mason é bisneta do padre Poppe que mandou reconstruir a igreja anglicana, dentro do perímetro do cemitério, quando esta quase desapareceu nas chamas. No século XIX, a família de Carol e a de Adelina cruzam-se pela primeira vez. O padre Poppe tem ao serviço um casal português: Alfredo e Maria da Conceição.

Quando perde o emprego com o casal que a trouxe de Câmara de Vouzela para a cidade, Adelina começa a limpar a Igreja e a casa do padre. É o marido que prepara a Igreja para o baptizado de Carol.

Na mesma pia, Carlos foi baptizado. O filho mais velho de Adelina lembra-se de uma infância passada em liberdade entre as campas do cemitério dos ingleses. “Escondia-me dentro dos caixões que o meu pai fazia e eu e a minha irmã brincavamos às escondidas entre as campas enquanto não nos apanhavam.”

Adelina lembra-se como toda a comunidade levava roupa aos seus dois meninos, de como eles aprenderam inglês na Sunday School criada pelo padre Poppe. De como a menina mais velha que teve e que está enterrada junto do resto da família gatinhava pela Igreja antes de ser levada pela meningite.

Carlos, hoje com 65 anos, teve duas filhas, as mesmas meninas que foram ver a avó ser homenageada por Isabel II. “O autocarro que nos levava para a escola passava ao pé do cemitério e nós costumavamos dizer que era ali que a nossa avó morava e que o nosso pai lhe costumava levar comida. Ninguém acreditava”, conta Joana.

MAIS UMA NOITE ENTRE OS MORTOS

Adelina regressa a casa depois de um final de tarde que não pôde prever quando radiante seguiu a bordo de um comboio rumo à capital.

Na malinha esmagada pelo antebraço, junto ao fato de saia e casaco que não saía do armário desde o casamento da filha, ela guarda a medalha de Isabel II. “Vou pô-la numa moldura na sala junto ao quadro da rainha.”

Tão longe vai o tempo em que entrou pela primeira vez aquele portão. Na década de 30, ainda a casa dos primeiros guardiões do cemitério, seus tios, estava erguida noutro sítio.

Em 1941, Salazar pisou pela primeira vez aquele mesmo chão para o serviço fúnebre em memória do Duque de Kent morto num acidente de viação. “Veio cá muitas vezes, lembro-me de o ver. O que é que há a dizer?”, remata com a proverbial frase, própria de diplomata.

No início da década de 40, um ciclone varreu Lisboa e arrasou 19 ciprestes do cemitério e 20 campas. Foi pouco. O progresso de Duarte Pacheco chegou nesse ano ao perímetro do cemitério. O engenheiro ministro das Obras Públicas de Salazar precisa de parte do terreno inglês para o traçado de acesso à linha do Estoril.

Os ingleses resistiram quatro anos. O processo arrastou-se mas, por 600 contos, acabam por ceder. O muro recua, a casa de Alfredo e Maria da Conceição é demolida e são trasladadas 35 campas antigas de judeus.

Adelina Pires lembra-se bem desse ano de má memória e da maldição que se contava, que terá feito prova no falecimento do engenheiro de Salazar. “Quem mexe-se em túmulos judaicos morre de morte violenta.” Doze meses depois de assinar o despacho, em 1943, Duarte Pacheco morreu de acidente de viação.

Daqui a quatro meses faz 97 anos. Adelina tem roupa guardada para poupar para os anos que ainda virão.

No fim da homenagem, a portuguesa de Câmara de Vouzela regressa a solo inglês para mais uma noite sozinha, entre mortos. Cruza o portão. Tem ainda os dois filhos atrás dela, alguns dos netos. “Agora acaba por aqui, no meu lugar já ninguém fica.” Adelina sabe que depois dela não haverá mais nenhum Pires no Cemitério Britânico.

CEMITÉRIO BRITÂNICO

QUATRO SÉCULOS DE HISTÓRIA

O local para o cemitério foi cedido em 1655 à comunidade inglesa e holandesa, numa época em que os mortos dos ricos eram enterrados nas igrejas e os outros não se sabe onde.

O Cemitério dos Ciprestes, como era conhecido, ganhou este nome devido à Inquisição que ordenou a plantação de um muro de ciprestes em torno do perímetro do cemitério. Pretendia impedir que os católicos vissem as campas dos protestantes. Um século mais tarde encontrou ali a última morada o mais famoso ocupante do cemitério britânico, Henry Fielding.

O escritor de Tom Jones é prova de que a morte é mais irónica que a vida. Embarcou para Lisboa com o intuito de recuperar a saúde sob o sol português. Morreu ao chegar, em 1754, deixando obra póstuma e escrita a bordo: ‘Journal of a Voyage to Lisbon’.

O ALGARVIO HOMENAGEADO POR ISABEL II

Joaquim Cupertino José, emigrado no Reino Unido desde 1952, recebeu a 17 de Fevereiro de 1997 o título de Membro do Império Britânico pelos quarenta anos de serviço no Hospital de St. Thomas. Nascido em Caldas de Monchique, em 1933, Cupertino José chegou a chefe dos empregados de mesa naquela unidade hospitalar de Londres. Entre aqueles que serviu lembra com particular cuidado a princesa Ana, que lhe enviou uma carta de felicitação no dia em que foi homenageado. Ascenção José, a mulher, é sósia de Isabel II.
Fernanda Cachão

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RE: O cemitério inglês de Lisboa e a Rainha

#124901 | Francisco Queiroz | 14 ago 2006 21:28 | Em resposta a: #119225

Cara Maria
Pode dar-me a referência completa desse livro que não conheço sobre o cemitério britânico? Tem depósito legal?
Obrigado
Francisco

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RE: O cemitério inglês de Lisboa e a Rainha

#124931 | aeiou2 | 14 ago 2006 22:24 | Em resposta a: #124901

Caro Francisco,

Comprei-o na própria St George's Church, zona de convívio, e o livrinho chama-se:
The British Cemetery, Lisbon
Copies of all Inscriptions existing or known of June 5th 1943
Made by Rev.H.F.Fulford Williams B.D.HCF Chapain,St George's Church,Lisbon
Vol.I e Vol. II

Cumprimentos
Maria

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RE: O cemitério inglês de Lisboa e a Rainha

#124934 | Francisco Queiroz | 14 ago 2006 22:27 | Em resposta a: #124931

Muito Obrigado.
Depreendo que o livrinho é, então, somente sobre as sepulturas da época da 2ª Grande Guerra e não sobra a história do cemitério em si mesmo.
Francisco

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RE: O cemitério inglês de Lisboa e a Rainha

#124958 | aeiou2 | 15 ago 2006 05:08 | Em resposta a: #124934

Os dois volumes que indiquei abrangem na totalidade todas as sepulturas que existiam no cemitério em 1943.
Há um outro livrinho que conta a história do St George's Cemetery, 74 páginas, esse é que comprei, peço desculpa pela má indicação e que é:

History of the Lisbon Chaplaincy,by John D.Hampton, with revisions by Rev.E.N.Staines, M.A.,M.Sc.Published by order of the Church Council 1965

havendo uma segunda edição em 1969

Cumprimentos
Maria

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RE: O cemitério inglês de Lisboa e a Rainha

#124990 | Francisco Queiroz | 15 ago 2006 17:33 | Em resposta a: #124958

Muito Obrigado. Só vou a Lisboa de vez em quando (sempre que é necessário pesquisar) mas irei certamente procurar adquirir esse livro, uma vez que incluí vários capítulos sobre túmulos do cemiterio britanico de Lisboa na minha tese (e na altura ninguém na capelania me informou da existência desse livro). Vai ser interessante confrontar dados.
Grato
Francisco Queiroz

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